CASSANDRA (ON-LIVE)



Tema: Cassandra

Texto: Rafaela Penteado

Direção: não informada

Performance: Rafaela Penteado

Duração: 20 min.

Assistido em: 26.06.20

Link: @teatrocacildabecker



Divulgação: Apresentação online de uma célula narrativa sobre o momento em que Cassandra de Troia atravessa os mares, espólio de guerra em direção ao reino de Agamêmnon. 


COMENTÁRIO

Este espetáculo é um work-in-progress, como diz a autora e atriz Rafaela Penteado, ligada aos grupos teatrais Os fofos encenam e Folias d’Arte. O “trecho poético”, que a própria dramaturga apresentou numa live no Instagram, tem apenas 20 minutos e boa parte deles preenchida com canções bem interpretadas por ela: um pedacinho de Fita amarela, de Nelson Gonçalves, um pouco mais de Invocação, de Chico César, e o grosso da performance musical retoma Quem me leva os meus fantasmas, do português Pedro Abrunhosa.


O texto dramatúrgico ainda está em desenvolvimento para apresentação nos palcos. Considerando-se apenas temas da Antiguidade, a dramaturga já teve encenada sua peça “Teseu, uma rapsódia de momentos que não serão lembrados”, que eu noticiei aqui, mas nunca tive a chance de ver.



Muito diferente do que tratei no post anterior, sobre a produção audiovisual de “Joana de Gota d’água [a seco]”, aqui tudo é muito íntimo e amador. A câmera é estática, posicionada de frente para um banco com uma alta porta de duas folhas ao fundo, que se abre para a varanda. É noite, velas estão acesas. É nesse espaço restrito e verticalizado, padrão Instagram, que a atriz se dirige ao público, aproximando-se às vezes da lente. Por trás dessa lente, além de nós, espectadores, há uma voz feminina discreta, mas presente no início e no fim da transmissão. É íntimo, é caseiro, é um trabalho ainda em rascunho que Rafaela Penteado gentilmente compartilha conosco. Isso é generoso.


Por este excerto do texto, a dramaturga parece querer exorcizar os “fantasmas” de Cassandra, a profetisa desacreditada, filha de Hécuba, rainha de Troia. A relação entre mãe e filha torna-se o centro do solilóquio da protagonista, já embarcada como espólio de guerra do rei grego Agamêmnon após a derrota e ruína dos troianos. Avistando na orla a mãe e rainha deposta, Cassandra diz: “Foi a primeira vez que me senti ligada à minha mãe, por um fio invisível que ligava todas as mulheres de Troia”. Essa vinculação entre todas as mulheres indica que virá uma leitura feminista do mito de Cassandra. 

(Renata Cazarini)


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