Lisístrata, o voo das andorinhas
Tema: Lisístrata
Texto: Aristófanes
Temporada: 01.03 a 01.04.18
Local: Teatro Sérgio Cardoso | São
Paulo (SP)
Adaptação e direção: Tom Rezende
Pesquisa dramatúrgica: Laura Diniz
Dramaturgismo: Marcelo Oriani
Elenco: Jamile Godoy (Lisístrata),
Fernanda Oliveira (Lampito), Maria Loverra (Cleonice), Camila Fernandes
(Clitorina), Thiago Ubaldo (Corifeio), Gustavo Martins (Cinécas), Eric Furlan
(Comissário), Rodolfo Bellarosa (Embaixador).
Assistido em: 23.03.18
Duração: 80 min
Em
meio a uma guerra que, há 20 anos, tira a vida dos homens e mantém seus filhos
longe de casa, as mulheres gregas, lideradas por Lisístrata, decidem pôr fim às
hostilidades usando uma tática nada convencional: uma greve de sexo. Para alcançar seus
objetivos, as mulheres ocupam a Acrópole e tomam conta do Tesouro a fim de que
seus maridos escutem suas razões, parem a luta e a paz seja finalmente
estabelecida. (Divulgação)
Trata-se
da comédia clássica de Aristófanes de 411 a.C. numa versão que usa a tradução
inglesa “Lysistrata or the Flight of the
Swallows”, de Alan H. Sommerstein, publicada pela Penguin de Londres em
1973, claramente expressa no subtítulo “O voo das andorinhas”.
A
Cia do Voo se apresenta como uma trupe teatral que trabalha com a pesquisa de
imagem, contos e obras clássicas que criam um diálogo com a contemporaneidade.
Atenas
estava em guerra contra Esparta desde 431 a.C. quando foi pela primeira vez encenada
“Lisístrata”. A Guerra do Peloponeso terminou em 404 a. C. com a derrota de
Atenas. "Quando estamos nos penteando e os fios se embaraçam, nós os
desembaraçamos pacientemente de lá pra cá, mil vezes, até que os fios fiquem
novamente soltos. Desembaraçar é uma lição política sem derramamento de
sangue" – diz Lisístrata, na montagem brasileira.
No
livro “Looking at Lysistrata” (2010),
que reúne oito ensaios e tem como editor David Stuttard, a peça é apresentada
como sendo cada vez mais popular e cada vez mais mal compreendida. O lema “faça
amor, não faça guerra”, depreendido do texto, segundo Stuttard (p.1), leva a
uma interpretação superficial do contexto em que foi escrita a peça.
Stuttard
é também o tradutor de uma “versão moderna” em inglês, inclusa no livro. Na
mesma obra, há um ensaio de Sommerstein. Veja no Google Books.
Sobre
a peça de Aristófanes e uma experiência tradutória, veja aqui o artigo de Ana
Maria César Pompeu.
Comentário
Apresentada
como uma “adaptação” da peça de Aristófanes, “Lisístrata, o voo das andorinhas”
faz rir. É certo que há algo de juvenil na montagem que leva o público a
emprestar sua boa vontade, mas estão em cena alguns bons atores e atrizes. O
figurino de Rosangela Ribeiro é atrativo (veja
as fotos acima, de Renata Cunha).
Há
uma atualização da linguagem e da interpretação que não apaga o clássico. Um
exemplo é o oráculo elaborado por Lisístrata: “O oráculo prometeu sucesso se
ficássemos invictas. Querem que eu repita? Se as andorinhas ficarem juntas,
unidas, num mesmo lugar, fugindo de pombos e de empombados falos, seus males
logo serão menores e as coisas de amor logo serão maiores, o que estava por
cima ficará por baixo e o que estava por baixo ficará por cima. Mas se as andorinhas
se dispersarem e voarem, logo serão devoradas por forças brutas. Unidas, serão
respeitadas. Sozinhas, serão dissolutas”.
Numa
canção entoada ao vivo logo a seguir, num momento como que trágico, são
denunciados casos de violência contra a mulher no Brasil do século XXI. (Renata Cazarini)