A ira de Narciso
Espetáculo solo de autoria do paraguaio
Sergio Blanco, escrito em francês, “A ira de Narciso” teve sua primeira
montagem no Brasil no Festival de Teatro de Curitiba, no Sesc Esquina, e chega
esta semana ao Sesc Pinheiros, em São Paulo. Veja fotos do blog Cacilda.
Dirigida no Brasil por Yara de Novaes e
Gilberto Gawronski no elenco, a peça é classificada como autoficção, um gênero
que tem ocupado os palcos nacionais com, por exemplo, “Tripas”, de Pedro
Kosovski, escrita para o pai e ator Ricardo que quase morreu após um grave
problema de saúde, ou mesmo “Hamlet”, do suíço Boris Nikitin, com foco na perda
do pai e no conceito de loucura, ambos espetáculos solos.
De acordo com o material de divulgação, “A
Ira de Narciso”, é um monólogo em primeira pessoa sobre a permanência do autor
na cidade de Liubliana, capital da Eslovênia, onde está como convidado para dar
uma palestra sobre o mito de Narciso. Tendo como única ambientação o quarto 228
do hotel onde o autor está hospedado, o texto narra os últimos preparativos
para a palestra, entremeados pela curiosidade em torno das manchas de sangue no
carpete e pelos encontros que mantém com um jovem esloveno que acaba de
conhecer.
A versão do mito de Narciso adotada por
Sergio Blanco é a de Pausânias, apontada como “uma tentativa de interpretação
racionalista do mito preexistente” (Pierre Grimal, “Dicionário da Mitologia
Grega e Romana”, 2005, p. 323). Nessa versão, Narciso tinha uma irmã gêmea, com
quem era imensamente parecido, um e outro muito belos, mas que havia morrido
prematuramente e a qual ele, ao se olhar numa fonte, pensava ter visto,
tornando-se uma obsessão.
Com formação em Filologia Clássica na
França, Sergio Blanco, dramaturgo e encenaor, toma o mito de Narciso como uma
procura do outro, não de si mesmo. Veja na Folha de S.Paulo.
Blanco, em linha com o suíço Nikitin,
apresenta a opção pela autoficção como uma oportunidade de questionamento do
falso e do verdadeiro na arte: parte-se de um teatro documental para a
ficcionalização do eu: "A autoficção triunfa quanto mais engana".
O uruguaio é autor de "Kassandra”
(2008), texto já encenado no Brasil, e de "Tebas Land” (2012), que deve ser encenado este
ano.
A IRA DE NARCISO