DIONISO – A vida indestrutível
Mito: Dioniso
Dramaturgia e direção: Patrícia Teixeira
Temporada: 03.03 a 28.04.18
Local: Espaço dos Satyros | São Paulo
(SP)
Coreografia: Cia Coexistir
Elenco: Diego Garcias, Fellipe Defall,
Guilherme Ribeiro, Janaína Reis e outros.
Assistido em: 24.03.18
Duração: 80 minutos
O
espetáculo aborda aspectos desconhecidos ou pouco explorados de Dioniso, o deus
da natureza, da transformação, do teatro. Ele mantém estreita relação com o
sofrimento, a morte, a ressureição e a iniciação, sendo dinâmico e
soteriológico, isto é, trata da salvação humana. (Divulgação)
O
trabalho parece ter-se baseado no livro de Karl Kerényi, que lançou, em 1976,
“Dioniso – a imagem arquetípica da vida indestrutível”, publicado no Brasil em
2002, pela Odysseus, em tradução de Ordep Serra. Veja crítica de Jacyntho Lins
Brandão publicada na Folha de S. Paulo à época.
Kerényi
foi colaborador de Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra criador do conceito
de “arquétipo”, com quem publicou, em 1941, os "Prolegômenos para o Estudo
Científico da Mitologia". Num artigo bem mais recente, de 2014, Kristóf
Fenyvesi aponta a relevância da proposição de Kerényi sobre Dioniso para a
Filosofia hoje:
“Although Kerényi’s book aims to
clarify the same concepts and questions recurring in discourses on biopolitics,
and is in fact a foundational text on biopolitics, it is seldom referenced.
Consider for instance that Kerényi’s interpretation of Dionysos as the
archetype of the indestructibility of life, and a cultic representation of the
idea of zoe, is based on the distinction between the ancient Greek concepts of
zoe and bios. In “Homo Sacer”, Giorgio Agamben’s interpretations and
distinctions are quite similar, if not largely analogous, but in relation to
these concepts, he never engages with or even cites Kerényi’s text, which
complicate and problematize how Agamben uses the concepts and thus necessitate
confronting them”.
Comentário:
O
espetáculo talvez pudesse até ser uma experiência singular, visto que tem
início à meia-noite e, antes que a plateia se sente, ela permanece em meio aos
atores representando os grandes mitos gregos como Medeia, Édipo, Antígona.
Mas
a peça, que integra a trilogia “Vida e morte”, se pretende uma ação
psicopedagógica, já que a diretora e dramaturga é também psicóloga jungiana,
ficando, a meu ver, aquém do teatro.
A
coreografia que pauta a montagem não encanta nem seduz, a representação das
bacantes é um clichê que coloca as mulheres como animais selvagens e foram
simplesmente transpostos exercícios da sala de ensaio para o palco, o que pode
se justificar do ponto de vista psicopedagógico, mas não do teatral.
Por
fim, o encerramento do espetáculo se dá com os atores fazendo declamações
diretas ao público sobre a vida e a morte, o que seria totalmente dispensável
se a peça se bastasse, se ela se realizasse enquanto teatro. (Renata Cazarini)
Para
um contraponto, ouça aqui entrevista com a diretora e dramaturga.