MULHERES TECENDO HISTÓRIAS: ENCERRAMENTO [06.07.19]


“Saiba: toda mulher não nasceu de uma costéla
nasceu de uma constélação”.


(Marcelino Freire)


Fazia 12 graus na Avenida Paulista. Manhã fria de sábado de inverno fora do prédio do Itaú Cultural. Lá dentro, duas vezes abaixo do nível térreo, tinha muita cor pra quebrar o cinza chumbo do piso e das paredes. As Pastoras do Rosário vieram a caráter, com turbantes multicores. Os bordados da Coletiva Tear e Poesia não acompanhavam nenhuma corrente de vento, que ali não havia mesmo, mas balançavam nos dedos de Marcelino Freire e de Idalina e de outras que montavam os varais de poesia. E no chão tinha papel colorido e brilhante como se fosse o firmamento invertido.


Era dia de despedida, mas era dia de alegria. Dava pra gente ser feliz dizendo adeus porque cada um(a) ali tinha mente e corpo abertos para mais essa vivência de fazer espetáculo de vida a poesia de cada um(a). Acho que foi isso que a gente aprendeu, não foi, não? Ver nos retalhos da vida a bordadura da poesia. Tem ponto apertadinho, tem ponto mais frouxo. Tem linha cortada bem rente e tem linha que fica assim pendurada... Tem poesia que fica bem no pano preto e tem outra que só pode aparecer no branco. E tem palavra pra toda cor. Tem ou não tem?


E parece que tem palavra que sabe dançar e sai assim malemolente das bocas das Pastoras do Rosário como o ponto certo sai das mãos das bordadeiras. E quem não borda nem canta faz o que pode para agradar os corações das demais com os arranjos de letras combinadas e recombinadas em expressões de lamento, gracejo, meio que num solfejo, ensaio de ritmo poético. Cada um(a) dá o que tem. Aliás, que só agora sabe que tem, porque antes dessa experiência das “Mulheres tecendo histórias” nem sabia que tinha algo ali, pedindo pra sair.


De março a julho, nos reunimos nos sábados. O poeta Marcelino Freire e 23 mulheres: Carla, Cristiane, Cristina, Delma, Fátima, Fernanda, Heloísa, Idalina, Ivonete, Lara, Lenita, Ligéa, Louise, Márcia N., Márcia T., Margarida, Marlei, Neuza, Renata, Sandra, Solange, Sônia, Tânia. Tivemos nossa guardiã, Natália. Tivemos as Marias bordadeiras nos sorrindo. Tinha lanchinho, cafezinho, risadas e lágrimas. Uma parte mesmo pequena do que foi tudo isso está relatada neste blog e sugiro a leitura e releitura e o exercício de buscar as poesias citadas pelo poeta e não incluídas nos posts. Há muito que fazer para dar continuidade a esse ofício de poetar. O Marcelino pegou, gentil, a mão da gente nos levou até o limiar desse mundo em que ele navega pelo curso das estrelas. Talvez nós, estas 23 mulheres, possamos persistir na rota, ainda que a gente, com menos graça que o mestre poeta, precise mesmo de bússolas.


Marcelino escreveu algo especial para a ocasião. O texto falado está transcrito.


Nada, nada se aprende. Nada se aprende. Tudo neste mundo é movimento permanente. O sol latente no sertão bate e rebate, fica no chão. A terra sêca, a terra ela sente. Nada em nenhum canto povoado se aprende. Tudo em tudo aloja-se. Fecundo é o nascimento. Toda mãe é crescimento. Não diga que não sabe a mulher que sofre. A lágrima da lágrima chove-se conhecimento. A raiz do tempo é rosa póderrosa. Ganha semente. Nada se aprende neste planeta. A força de uma estrela nunca morre, lança brilho em qualquer escuridão. Saiba: toda mulher não nasceu de uma costéla, nasceu de uma constélação.
Por exemplo, este poema tomado de gratidão não é meu, não fui eu quem escreveu, foi o vento, o vento soprado da infância dessas mulheres, veio vindo da voz dessas mulheres, das linhas de seus bordados. Sinto. Sou apenas um instrumento. Hoje, para sempre, um ser humano diferente. Aqui, nada neste mundo se aprende. Tudo apreende-se. Apreende-se. Apreende-se.


Seguem algumas imagens da celebração de encerramento da oficina de poesia. Axé!



Antes de tudo, os preparativos.


Heloísa e o presente surpresa pro Marcelino

Marcelino comanda o show

Natália supervisiona tudo

Marlei (esq.) e Ligéa repassam o roteiro do show

Itaú Cultural em movimento frenético

E o palco vai se construindo...


O palco antes do show

O palco em movimento


Preparando o spot que ilumina estrelas

O palco lotado

Bordadeiras e seus bordados tomam a cena.
Marcelino na montagem dos varais

Idalina pendurando poesia

Jonny Gima e o varal de poesia

Coletiva Tear e Poesia na boca de cena

Veja nosso post da visita das Marias bordadeiras.
As bordadeiras e Jota

E a poesia arpillera da Sônia
Veja nosso post sobre a apresentação desse trabalho.

Artistas pra valer no palco.


O palco animado

Marlei, Wilma, Carla, Dona Margarida, Neuza

Marlei só no molejo

Sandrinha, Lara, Jonny Gima, Tita Reis

Lara num sorriso lindo

Cristina na leitura
Veja o post em que está a poesia da Cris.


Heloísa na leitura
Veja o post em que está a poesia da Helô.

Solange na leitura
Veja o post em que está a poesia da Sol.

Agradecimentos na forma de presentes.
Marcelino recebe nosso presente

Marcelino e seu cartoon, criação da Idalina
O cartoon

O cartão-cartoon assinado

Marcelino e seu bordado