MULHERES TECENDO HISTÓRIAS: AULA 5 [06.04.19]



“O destino da gente é se espalhar, órfãos da terra”.
(Marcelino Freire)

Quatro Marias bordadeiras da vida de quem vive nas bordas vieram nos ver e vão bordar também nossas palavras poéticas. Mulheres-Marias vindas de outras plagas, cujas vidas se alinhavam em São Paulo na Coletiva Tear & Poesia de Arte Têxtil.

Da direita para a esquerda: Maria do Socorro Silva veio do Rio Grande do Norte. Maria de Fátima Nogueira veio de Minas Gerais. De Minas, veio também Maria Rosário Paulo. Rita Maria veio da Bahia. E Marcelino, que não é Maria, mas também tem “Mar” no nome, veio de Pernambuco.

O bordado que aprenderam, estas mulheres ensinam a outras mulheres e a crianças e a homens que queiram aprender. Com o projeto “Bordando nas Bordas: imersão afetiva na cidade que a cidade não conhece”, contemplado pela 2ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da Cidade de São Paulo, chegaram a parques, represas e aldeias indígenas num trabalho itinerante.

A Rita contou: “A gente foi bordar com os índios, no mato, onde tinha cobra. Num dia, o índio queria receber a gente, no outro, não queria”.

A Rosário contou: “Com esses bordados, fui pra muito lugar que eu não conhecia. Conheci muita gente, gente boa”.


Tear & Poesia existe há mais de 15 anos, mas em 2019 é que publica um livro, calendário, DVD e CD documentando suas atividades. Veja o vídeo.

O projeto promove a reflexão sobre a construção histórica da mulher preta e indígena retratada nas linhas das bordadeiras. Rita, que é produtora e coordenadora do Tear & Poesia, diz que alcançou independência intelectual e financeira. Sobre o grupo, ela diz: “São mulheres donas de si, que lidam com as cicatrizes deixadas por esta sociedade patriarcal e racista e as transformam em belezas feitas de linhas e retalhos”.


Além de enlaçar imagem e palavra, as Marias do Tear & Poesia resgatam músicas em domínio público e que correm o risco do esquecimento, transformando-as em “cantos de trabalho” reunidos num CD que está à venda. Ouça alguns dos cantos aqui.


“Natureza é mulher, ser que tudo pode,
anima, pulsa e novamente, sempre, explode”.
(Coletiva Tear & Poesia)