MULHERES TECENDO HISTÓRIAS: AULA 13 [08.06.19]
O tempo está rugindo contra mim, então tardou demais este post.
Da minha memória da nossa última aula algumas coisas se foram.
Mas é assim mesmo que funciona o tempo, vai apagando, apagan...
Ficará um registro talvez seco em excesso do que foi MEL-o-dia pura
escorrendo CAUDAL-osa-mente da boca-sorriso da Sônia OLIVEIRA.
Ela compartilhou conosco, sem MEL-o-drama nem nada, seu processo de autoconhecimento após uma grave depressão. Foi por meio da prática da “arpillera” (ou arpilharia, em português). Trata-se de um bordado de resistência política e emocional feito sempre artesanalmente sobre um pano rústico, a “arpillera”, em geral, sacos de acondicionamento de farinha e outros produtos.
“Graças às arpilleras, muitas mulheres chilenas puderam denunciar e enfrentar a ditadura desde fins de 1973. As arpilleras mostravam o que realmente estava acontecendo nas suas vidas, constituindo expressões de tenacidade e da força com que elas levavam adiante a luta pela verdade e pela justiça”. (site: pontosolidario.org.br)
Um catálogo com muitas imagens e informação pode ser baixado aqui.
Sônia nos apresentou alguns de seus trabalhos acompanhados de relatos da sua história de vida. Contou como em alguns casos houve a superação de conflitos, em outros a dificuldade persiste. Cada arpillera motiva um texto poético. Um dos seus belos trabalhos, incluindo uma boneca Abayomi, motivou o texto abaixo.
RETORNO
É o tronco que testemunha
É a lágrima que cai
É areia escaldante
Ondas que vão
Ondas que vêm
Não sem adeus.
Viagem sem rumo
Saudade sem fim
Os sóis muitos
As luas várias
Presente e passado em ciclos
Passado e presente, indo e vindo
Hoje foi ontem
Ontem é hoje
O mar devolve
Sorrisos levados
Areia em festa, em flor
Âncora ao mar
Uma paz celebrada
Os laços eternos, os braços fraternos
Olhar de esperança
É a vida a retornar
É agora!
É fato
É perdão!
(Sônia Regina Rodrigues Oliveira de Novais)
Outro trabalho, índice das possibilidades da técnica, é uma “árvore genealógica” da família de Sônia. Muita cor nas flores, com fuxicos. Interessa notar, se a foto permitir, como há caules desconectados, representando os que já se foram. Também há flores menores, representando filhos.
A Sônia inseriu na sua vida também outra prática artesanal, a da colagem, mas com regras estritas, conhecida como “soul collage”, e produz lindos cartões. Marcelino, mestre poeta, revelou que também é adepto da colagem – e está devendo nos exibir alguns dos seus trabalhos.
Na sequência dessa experiência de um coração que se abre em beleza como o da Sônia, algumas colegas leram suas cartas ao senhor Tempo. Não deu pra ler a minha, mas aqui vai. Adeus.