"Curra - Temperos sobre Medeia"


Mito:  Medeia (Eurípides) 
Direção e dramaturgia: Cleiton Pereira 
Elenco: Cleiton Pereira, Daniele Santana, Kaíque Costa, Narany Mireya, Pâmela Carmo, Samuel Vital, Soraia Amorim. 
Direção e criação musical, apresentação ao vivo: Michael Meyson   
Duração: 90 minutos 
Temporada: 15 a 24.06.18 
Local:  Funarte | São Paulo (SP) 
Assistido em: 22.06.18 

Uma celebração afro-brasileira sobre o mito clássico. O espetáculo é baseado nas tradições do corpo em ritos profanos e instiga o público a se relacionar com a montagem por meio dos sentidos.  (Divulgação) 


NOTA BENE
Essa dramaturgia, de base antropológica, tem dez anos e integra o repertório da trupe Contadores de Mentira, sediada em Suzano (SP), que completa 23 anos. 

“Propomos novos espaços, novos olhares para um teatro voltado aos ritos, à pesquisa de linguagens e à construção de identidade”, informa o grupo. “Encontramos a nossa maneira de celebrar um tema e não apenas interpretá-lo na dramaturgia da razão”. 

A nova montagem integrou a ocupação em homenagem ao grupo na Funarte-SP. 

Comentário 
A proposta do grupo de experiência sensorial se realiza com a cozinha montada no espaço cênico em que o ruído da panela de pressão e o chiar da frigideira integram a trilha sonora - ao vivo - que conduz todo o espetáculo. 

Também o olfato é provocado repetitivamente, com a queima de incenso, mas também com a cachaça que é distribuída ao público ao longo de todo o espetáculo. No fim, há até mesmo um banquete oferecido por Medeia aos homens da plateia e a Creonte e a Glauce. 

A cozinha é a de um terreiro de candomblé, em que o cozinheiro branco recebe o orixá de Jasão. A Medeia negra é expulsa pelo dono do terreiro, Creonte, que acaba por conceder a ela um dia mais. Aquele fatídico dia a mais no qual ela prepara o banquete com suas ervas, que envenenam Creonte e Glauce, em que mata seus dois meninos. 

A gula é o motor da ação: Jasão é guloso demais e não se satisfaz apenas com Medeia, que já não tem sabor para ele. Medeia é amarga, Glauce é doce. Os meninos são gulosos e se deixam levar por doces maculados pelas mãos da mãe. 

A celebração ritual, diz o grupo, é o ponto de ligação entre a cultura grega e a sua montagem: “este embebedar e a gula antropofágica ritualizam a encenação”. O espetáculo efetivamente se realiza como uma cerimônia de compartilhamento do espaço teatral, com dança e refeição coletiva, ainda assim mantendo o mito de Medeia como eixo da experiência antropológica. (Renata Cazarini) 

Veja o vídeo e a galeria de fotos da peça.