UM ATOR E O TEATRO ENGAJADO – ANTÍGONA NA AMAZÔNIA

Frederico Araújo, em primeiro plano, como Oziel Alves

ATUALIZADO EM 23 ABRIL 2023

Eu nem ia escrever mais, por ora, sobre esse projeto tão ousado que é a peça Antígona na Amazônia, concebida pelo encenador suíço Milo Rau e que estreia em 13 de maio na Europa. Mas acontece que o ator brasileiro Frederico Araújo, que se uniu ao NTGent, teatro da cidade de Gante, na Bélgica, para essa montagem, me enviou um depoimento sensível o bastante para ficar registrado. É assim que um ator se engaja com o fazer teatral de potência política, proposta tanto de Milo Rau como da brigada artística do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apoiador do projeto.

Milo Rau, com boné do MST, veste a camisa Antígona na Amazônia

A equipe do NTGent esteve durante três semanas no Pará, fazendo gravações em Marabá, que serão incorporadas à encenação presencial da Antígona na Amazônia. Em 17 de abril, foi rememorado o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, com saldo final de 21 militantes do MST mortos. A Juventude do MST, alguns sobreviventes do massacre e atores do NTGent reuniram-se nesse dia para encenar o episódio. Antes disso, durante toda a semana, jovens militantes fechavam a Transamazônica, performando as chamadas “místicas”, cenas curtas, por 20 minutos.

Frederico Araújo, de frente, em primeiro plano

Ouça aqui (2'10") o depoimento de Frederico Araújo ou leia:

                      Tudo foi muito forte! Eu, como ator, por exemplo, estar ali... Imagina! Nunca pensei que a rodovia Transamazônica fosse ser um palco pra mim em algum momento. Aquele era o meu palco. Era aquilo que a gente estava fazendo. Era realmente uma performance, com as câmeras correndo atrás da gente, mas sem parar, sem edição: não era um filme que a gente estava fazendo, era teatro. E foi incrível! Eu, nesse momento, personificando a memória do Oziel (Alves), que foi um jovem morto no massacre, e uma responsabilidade muito grande de ser a voz, de dar voz a essa memória, a essa presença muito forte pro Movimento. Foi assim que a gente finalizou nossa temporada de aprendizado, de convivência com o Movimento Sem Terra. A gente fez o filme, a gente gravou todas as cenas, que, a princípio, vão ser projetadas durante o espetáculo, porque o espetáculo tem essa linguagem de ter os atores em cena e ter um filme passando atrás: a relação do ator, ao vivo, em cena, fazendo teatro, com as imagens gravadas no Pará e projetadas durante o espetáculo. Isso é parte da pesquisa. A gente gravou tudo o que tinha que gravar no Brasil, a gente passou por essa convivência enriquecedora com os jovens do Movimento e agora a gente voltou pra Bruxelas e vai voltar a ensaiar, já no palco, teatro e a relação teatro-cinema, para estrear daqui a três semanas. Então, vai ter muita coisa boa pela frente. É o que eu espero. Tenho a sensação do dever cumprido, porque foi lindo o trabalho que a gente fez. Estamos todos contentes e vamos trabalhar ainda muito mais pra ficar uma peça linda e a gente estrear lindamente em 13 de maio.

Reportagem publicada pelo MST em 23 abr. 2023, com depoimentos de militantes. Leia aqui.

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