SENECA - ON THE CREATION OF EARTHQUAKES

SÊNECA – SOBRE A CRIAÇÃO DE TERREMOTOS


Alemanha/Marrocos, 2023
Diretor Robert Schwentke
Roteiro: Robert Schwentke, Matthew Wilder
Produtores: Karim Debbagh, Frieder Schlaich, Irene von Alberti
Berlin Film Festival – 20 fev. 2023
Lançamento comercial na Alemanha em 23 de março 2023
Inglês, 110 min.
Elenco:
John Malkovich (Sêneca)
Tom Xander (Nero)
Geraldine Chaplin (Lúcia)
Louis Hofmann (Lucílio)
Lilith Stangenberg (Paulina, mulher de Sêneca)
Samuel Finzi (Estácio, médico)
Mary-Louise Parker (Agripina, mãe de Nero)
Andrew Koji (Felix)
Julian Sands (Rufo)
Alexander Fehling (Décimo)

O filme Sêneca estreia neste 20 de fevereiro de 2023 no 73º Festival de Cinema de Berlim (16-26 fev.). Eu nem vi, claro, mas e daí? Dá pra fazer o registro e propor algumas ideias a partir dos trailers disponíveis em inglês com legendas em alemão. E sugiro ver nesta ordem: primeiro este (0:53), depois este (1:54).

Os comentários no YouTube não são fáceis. Muita gente alarmada com o tratamento dado ao “ídolo” do estoicismo tardio.





Mas, veja bem, Sêneca está longe de ser um modelo irreprochável. E vejo mérito (sem ter visto o filme) em abordar a morte do filósofo de maneira satírica. Acontece que, se o filme retrata a cena final da vida do antigo mentor e amigo do imperador Nero, cai na situação de preencher lacunas no relato de Tácito (Anais, XV.60-63), por exemplo, quando o historiador latino diz que “e então, nos derradeiros momentos, chamados os secretários, com abundante eloquência, ditou-lhes um discurso que não desejo desfigurar e que está nas mãos de todo mundo, divulgado nos seus próprios termos” (trad. Leopoldo Pereira, Ediouro, s/d, p. 256).



Rá! Rá! Cadê o tal discurso? Não temos. Não chegou até nós, embora a obra supérstite do estoico seja até vasta: poesia dramática, diálogos e tratados filosóficos, epístolas, sátira. Discursos políticos e prosa histórica não sobreviveram. O episódio do suicídio forçado de Sêneca tornou-se icônico porque imortalizado não apenas pelo texto de Tácito, mas pela iconografia posterior, como as pinturas de Rubens (1615) e de Giordano (1675). 

Luca Giordano
Peter Paul Rubens






















A imagem de Sêneca moribundo evoca a morte de Sócrates, como, aliás, se insinua no trailer: “Perhaps I can become my best Seneca by playing Socrates” (Talvez eu possa me tornar meu melhor Sêneca interpretando Sócrates).

O diretor alemão Robert Schwentke estudou filosofia e literatura comparada na Alemanha antes de sua formação acadêmica em cinema em Los Angeles. Eu nem sabia que já tinha assistido a tantos filmes que ele dirigiu, por exemplo, dois da série Divergente (Insurgente, 2015; Convergente, 2016), RIPD: Agentes do Além (2013), RED: Aposentados e perigosos (2010) – tudo muito comercial, os últimos, com uma boa dose de humor.

Daí que não há razão para pensar numa reconstituição histórica do ano 65 da Era Comum, quando morre o político-filósofo. Algumas “inconsistências” aparecem na sinopse publicada pelo Festival de Berlim. Em 65 EC, o imperador Nero não estaria ensaiando um discurso com Sêneca numa aula de Retórica. A esta altura eles já estavam afastados, segundo o relato de Tácito (Anais, XV.52-56).  Nem Paulina, a segunda esposa, teria optado pela morte voluntária efetivamente (Anais, XV.64).



A popularidade de Sêneca é grande como propagador do estoicismo, uma das fontes permanentes de matéria para o mercado editorial de autoajuda. Suas frases de efeito, as sententiae, estampam camisetas por aí. No trailer, ele afirma para Nero: “Aim for virtue, happiness will follow” (Almeje a virtude, a felicidade virá a seguir).

Ansiosa pra ser feliz vendo esse filme. Ainda não sei quando chegará ao Brasil.

NOTA DE RODAPÉ

Só depois da edição do post achei esta entrevista (em inglês) com o diretor. Explica muito.


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