ORPHÉE, ópera de Philip Glass


Tema: mito de Orfeu e Eurídice
Libreto: Philip Glass
Direção cênica: Felipe Hirsch
Direção de arte: Daniela Thomas e Felipe Tassara
Direção de movimento e coreografia: Priscila Albuquerque e Bruno Fernandes
Iluminação: Beto Bruel
Figurinos: Marcelo Pies
Direção musical e regência: Priscila Bomfim
Elenco: Com artistas do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que, na linguagem dança-teatro, fazem contraponto dramatúrgico aos principais personagens da ópera.
No papel título, o barítono brasileiro Leonardo Neiva. No papel intitulado Princesa, a morte é a soprano portuguesa Carla Caramujo. O tenor ítalo-brasileiro Giovanni Tristacci é Heurtebise. No papel de Eurídice, a soprano Ludmilla Bauerfeldt. Como Cegeste, o tenor brasileiro Geilson Santos.
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ)
Duração: 150 min (incluindo intervalo de 15 min)
Temporada: 25.10 a 31.10.19
Assistido em: 27.10.19

SINOPSE
Escrita por Philip Glass, a ópera “Orphée” foi composta tendo por base o famoso filme homônimo, dirigido por Jean Cocteau em 1950. Glass não só musicou como também escreveu o libreto, tirado diretamente do roteiro cinematográfico. Dessa adaptação, em dois atos e 18 cenas, surgiu uma obra que captou das telas o clima onírico e surrealista. A versão de Glass estreou em 1993 no American Repertory Theatre, em Massachusetts (EUA). O mito é usado como parábola da vida de um artista e do poder da arte. Como no filme, o Orfeu da ópera busca sua mulher no mundo dos mortos e retorna com ela para a vida de antes. (Divulgação)


Theatro Municipal do Rio de Janeiro

NOTA BENE
A estreia latino-americana da ópera de Philip Glass, compositor de 82 anos, aconteceu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro na sexta-feira, 25 de outubro de 2019. 

O programa da ópera pode ser baixado do site do TMRJ.


LONDRES TAMBÉM RECEBE “ORPHÉE”
Na English National Opera (ENO), entre 15 e 29 de novembro, a diretora Netia Jones vai combinar ação ao vivo com exibição de trechos do filme de Jean Cocteau, numa programação mais abrangente, que inclui quatro óperas baseadas no mito antigo.


COMENTÁRIO
Na segunda fila da plateia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, durante o intervalo, uma espectadora comentava com o amigo como seria impossível para quem jamais viu o filme “Orphée”, de Jean Cocteau, entender o que se passava na ópera homônima. Ela tinha visto e recomendava o filme – “muito” – para uma espectadora da terceira fila. Eu, na poltrona A2, ouvindo tudo e pensando na minha infelicidade de já não poder ter essa experiência instigante de estrear a obra de Cocteau por meio de Glass.


Acontece que a ópera segue tão de perto o filme que não chega a se descolar como uma obra autônoma. Ou, talvez, seja resultado da direção de arte desta montagem, que retoma claramente a ambientação onírica do filme preto e branco de 1950. Na direção cênica, Felipe Hirsch optou também por evitar soluções tecnológicos que reproduzissem os efeitos especiais de caráter surrealista usados no filme – e que a ele dão um sabor especial!



O espelho, dispositivo fundamental na película, é magnificado no cenário de Daniela Thomas, multiplicando a presença de personagens nas cenas coletivas. No momento de passagem de Orfeu para o mundo dos mortos, usando um par de luvas que permite que atravesse o espelho acompanhado de Heurtebise, cresce a expectativa quanto à solução que se pode dar num palco – digamos – convencional. Os atores aproximam-se do ângulo formado pelas duas paredes de espelhos, numa projeção tridimensional interessante, mas é preciso o apagar das luzes para simbolizar a passagem. Intervalo.


Não é o caso de fazer uma análise comparativa entre filme e ópera. A ópera não tem que alcançar a estatura do filme. Não há uma hierarquia na adaptação, como bem defende Linda Hutcheon (A Theory of Adaptation).


O barítono, Orfeu

Só que a ópera de Philip Glass se apega tanto ao filme que há simulação demais de falas em cena: o julgamento, por exemplo, é uma delas. Não há nenhuma ária. Um dueto feliz entre Orfeu e a Princesa. Como diz Márvio dos Anjos no jornal O Globo, “não temos canções memoráveis”. Mas o jornalista é elogioso acerca de “Orphée”: “O resultado é um filme P&B em carne e osso, que favorece a sugestão de um sonho. Na temporada que celebra seus cansados 110 anos, o Municipal achou seu lugar na contemporaneidade com bravura”.


A soprano, Princesa


A soprano portuguesa Carla Caramujo é sedutora e especialmente convincente é o tenor Giovanni Tristacci. 


O tenor, Heurtebise

Como informa Bruno Furlanetto no programa do espetáculo, entre 1993 e 1996 Philip Glass extraiu de três filmes de Jean Cocteau uma trilogia cantada em francês: primeiro, musicou o roteiro de “Orphée” como libreto de ópera; depois, substituiu a música de Georges Auric de “La Belle et la Bête” por uma trilha sonora própria; por fim, criou uma ópera-balé em que se conta a história do filme “Les Enfants Terribles”. 

A ópera “Orphée” foi encomendada pelo American Repertory Theater e estreou em Cambridge (Massachusetts) em 14 de maio de 1993. Philip Glass é considerado o principal representante do minimalismo, repetindo células melódicas com modulações mínimas. Essa é a música que se ouve no TMRJ, com um número pequeno de membros da Orquestra Sinfônica regidos por Priscila Bomfim.

 A regente

Não é preciso elencar como o mito de Orfeu foi motivo de criações operísticas desde o início da história dessa modalidade artística. O TMRJ disponibiliza online um texto.
 (Renata Cazarini)