Gota D’água (peça-filme)


Cia. Baiana de Teatro Brasileiro (Bahia)

Dramaturgia: Paulo Pontes e Chico Buarque

Roteiro: Augusto Nascimento, Evana Jeyssan e Vinícius Lirio

Direção: Vinícius Lirio

Codireção: Augusto Nascimento

Elenco: Augusto Nascimento e Evana Jeyssan

Idealização: Augusto Nascimento

Direção de Produção: Victor Alves

Produção executiva: Lindete Souza

Assistente de produção: Victor Hugo

Assistente de direção: Mônica Nascimento

Trilha sonora original: Luciano Bahia

Preparador vocal: Bruno Barbozza

Figurinista: Rino Carvalho

Assistência de Figurino e Costura: Angélica Paixão

Cenografia: Renata Mota

Iluminadora: Larissa Lacerda

Assistente de Iluminação: Milena Pitombo

Diretor de Filmagem: Moisés Augusto Nascimento

Diretor de Fotografia: Gabriel de Conceição Teixeira

Técnico de Som: Caio Carvalho De Sousa

Montador: Alexandre Marinho

Mixagem: Moisés Augusto Nascimento

Assistido em 24 nov. 2021

Exibição de 24 horas no 13º Festival Latino-americano de Teatro da Bahia (Filte)

71 min.

18 anos

Lei Aldir Blanc Bahia, gravado durante a pandemia de covid-19, em agosto de 2021.



Sinopse:

Uma versão contemporânea do clássico “Gota D’água” materializada em uma composição cênica que transita entre dança-teatro e o audiovisual. Nesta proposta, Jasão e Joana aparecem entre coros que recuperam vozes daqueles que os rodeiam, enquanto os dois degradam-se e performam suas próprias ruínas. “Gota D’água”, primeira realização da Companhia Baiana de Teatro Brasileiro, é um trabalho híbrido entre teatro e audiovisual. (Divulgação)

 



COMENTÁRIO

Hoje em dia tenho problemas para encarar “Gota d’água”, a peça, não a canção. 


A peça traz uma Medeia que é renomeada como Joana, que já está desgastada pelo tempo (segundo Jasão, que mantém, inexplicavelmente, o nome do herói grego) e que não consegue nem mesmo o apoio divino para sua vingança. 


É difícil pra quem trabalha com Medeia, o mito e a peça, ainda mais a de Sêneca, autor latino do século I da era comum. Aquela Medeia canônica tem uma saída magistral da trama: após ter matado os dois filhos, foge na carruagem puxada por duas serpentes, o dispositivo deus ex machina.


Ao mesmo tempo que faço essa ruminação, também me pergunto: 


Como é que alguém que trabalha com o texto dramatúrgico (academicamente, é verdade) lida com a força da performance, a qual parece suplantar a aparente fragilidade ética para com a mulher da peça brasileira da década de 1970? 



Acabo de ver on line a peça-filme “Gota D’água” da Cia. Baiana de Teatro Brasileiro, em que a dupla de atuantes Evana Jeyssan e Augusto Nascimento sustentam 70 minutos de espetáculo, desempenhando os papéis de Joana e de Jasão, respectivamente, bem como do Coro.


O roteiro mantém as referências da exploração imobiliária daquela época no Brasil, citando, por exemplo, os milhões de cruzeiros, moeda aposentada há muito tempo. Foi o mesmo que fez a encenação presencial “Gota d’água {Preta}”, sob a direção de Jé Oliveira, e sobre a qual escrevi aqui. Outra aproximação entre estas duas montagens é o elenco preto, que atualiza a peça no imaginário do amante de teatro. A produção da Cia. Baiana de Teatro Brasileiro evoca também a “Gota d’água [a seco]”, com elenco branco reduzido à dupla Laila Garin e Alejandro Claveaux, e sobre a qual também escrevi aqui.


Bom, daí que você pensaria que não pode haver nada de novo no front. Mas eu discordo.




A cenografia aposta num palco arena reproduzindo um pequeno parque de obras, com baldes, bacias, cimento e areia, com a qual se trabalha ao longo da peça como detrito que escorre sobre os atores. 



Então, entra o visagismo (não identificado na ficha técnica): atriz e ator com os rostos sempre maculados do pó que a obra levanta. 



Complementa o figurino, instigante com o que aparenta ser uma rede de pesca recobrindo as vestes rústicas.



Uma das cenas mais sedutoras tem foco em Joana retirando o soutien vermelho sem despir-se, habilidade que costuma surpreender os homens (embora, na sequência, o soutien possa ser vislumbrado na personagem, o que parece ser um erro de continuidade). Essa intimidade exposta na tela aciona um mecanismo de identificação com a personagem.



Também é muito envolvente a performance musical dos dois atuantes: Augusto Nascimento canta, é claro, “Gota d’água”, o samba que leva Jasão à fama e o afasta de Joana; Evana Jeyssan canta “Basta um dia”, quando reflete sobre a vingança em preparação.








O grupo apresenta seu trabalhado como “dança-teatro” e é legítimo. Há uma coreografia que explora belamente o espaço cênico, uma harmonia de movimentos de corpos grandes que bem ocupam a cena, a tela e os corações.



O desfecho parece indicar que a filicida (2 baldes representam os filhos) e suicida Joana se aproxima da luz. Sobre Jasão escorre areia vermelha e nem preciso dizer o que representa. 


Renata Cazarini

[as imagens são prints de tela que fiz durante a transmissão]


Comentários