ANTÍGONA É AVÓ!


Neste filme, chamado também de “filme espetáculo”, na categoria hoje mais divulgada como “filme-peça”, Antígona já é avó e vai tentar sepultar sua filha morta no ápice da pandemia de covid-19. Em casa, ela estava presa por um fio de ar, diz Antígona, que tem dois netos adultos. Exceto pelo ator que faz Creonte, líder político inflexível que impõe a cremação mesmo quando se quer “virar raiz”, todo o elenco é preto. Denise Assunção é superlativa. Veja os detalhes e meu comentário abaixo.


Denise Assunção


ANTÍGONA TERCEIRIZADA (filme espetáculo)

A Digna Coletivo Teatral

Concepção: Victor Nóvoa, Luís Mármora

Texto: Victor Nóvoa com interferência poética do coletivo

Direção: Aysha Nascimento, Georgette Fadel, Karen Menatti

Elenco: Denise Assunção (Antígona), Luís Mármora (Creonte), Nilceia Vicente (Coro), Éder dos Anjos (Neto), Alba Brito (Neta), Catarina Milani e Karen Menatti (Coro de seguidores).

Câmera, Direção audiovisual, Montagem: Julia Rufino/Sonan Filmes

Direção de arte: Eliseu Weide

Desenho de luz: Aline Santini, Clara Caramez

Música original: André Abujamra

Produção musical: André Abujamra, Ivan Garro

Desenho de som: Ivan Garro

Mixagem: Estúdio Olaria

Captação e Edição de som direto: Gabriel Piotto

Direção de produção: Catarina Milani

Assistência de produção: Paula Praia

Operação de luz: Clara Caramez

Video mapping: Rafael Drodro

Contrarregragem: Bruno Maldegan

Produção e realização: Marmorhaus Produções Culturais

Temporada: 15 nov.-4 dez.2021

Assistido em 22 nov. 2021

70 min.

14 anos

Diariamente, às 19 horas.

Canal do Centro Cultural São Paulo no YouTube.

Projeto contemplado pelo Prêmio Zé Renato de Teatro


Luís Mármora

Sinopse:

“Antígona Terceirizada” é livremente inspirada em “Antígona”, de Sófocles, e apresenta uma cidade-estado devastada por uma situação pandêmica, que não permite que pessoas periféricas enterrem seus mortos e as obriga a incinerar apressadamente seus parentes acometidos pela pandemia. Imersa nessa “realidade”, nossa Antígona se vê obrigada a não parar de trabalhar como funcionária terceirizada e enfrenta as leis de Creonte para enterrar sua filha e cumprir seus ritos de passagem. (Divulgação)


Dá pra ver um teaser.


Luís Mármora


COMENTÁRIO

A economia não vai bem e a situação sanitária, diante da pandemia, pior ainda. Nesse cenário, as redes sociais são manipuladas para a imposição irrestrita de um poder ilimitado, que determina até o abandono no meio-fio dos corpos vitimados pela doença. “Quando o coração vira pedra, não tem mais volta” – diz essa Antígona preta, avançada na idade, que sustenta a família, composta da filha e de um casal de netos tentando um meio de vida com a entrega de cachorros-quentes. A filha moribunda só tinha um desejo, segundo Antígona: “Foi na última migalha de ar que ela disse: – Guarda eu no chão, mãe. Quero ser raiz da terra nova”. Nessa dramaturgia, os cidadãos não são passivos: reagem bravamente com os instrumentos que têm.


O argumento nuclear da “Antígona” de Sófocles é o tema desta produção, que elimina as tramas paralelas de Ismene, Hemon, Eurídice. A cozinha como cenário traz a vida doméstica da periferia para o centro da ação. Também é reconfigurada a personagem que dá nome à peça: já não se trata da confrontação de uma jovem rebelde contra um tirano, mas da mulher preta chefe de família contra um sistema de dominação branca masculina.


Denise Assunção, Alba Brito, Éder dos Anjos

 

“Nossa Antígona Terceirizada é uma obra original de um autor contemporâneo, com um grupo de artistas criadores e é livremente inspirada, assim como tantas que houve na América Latina, colocando nosso recorte, assim como a do Brecht e de tantas/os outras/os”, comentou Luís Mármora no chat durante a transmissão.


O filme conta com uma trilha sonora original, do compositor André Abujamra. Também opta pela edição de imagens em cores e em preto e branco. Denise Assunção, como protagonista, tem a força da personagem trágica. A localização da trama no Brasil de hoje talvez limite o fôlego dessa produção na perspectiva histórica, mas documenta a relevância da dramaturgia para uma comunidade em crise: é impossível calar-se.

Renata Cazarini


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