OEDIPUS PROJECT (Nobel Prize Summit)
Édipo, de Sófocles, na tradução de Bryan Doerries
Leitura dramática
Transmissão online via Zoom
Visto em 27 abr. 2021
Duração: 75 min.
Comentário
Após 30 espetáculos realizados online desde 7 de maio de 2020, o idealizador do Theater of War Productions, tradutor, dramaturgo e diretor de leituras dramatizadas baseadas em textos clássicos Bryan Doerries insiste em se desculpar, antes de tudo, quanto a falhas que possam ocorrer durante a transmissão. Estamos aprendendo – ele diz. Elas, de fato, acontecem até com estrelas de Hollywood. Falhas na iluminação, precariedade do figurino, baixa qualidade de transmissão se repetem – ele tem razão em se desculpar.
Bill Murray como Creonte
Bill Murray, que fez Creonte, parecia vestir um roupão sobre pijamas. Parecia. Não dá pra afirmar. A posição da câmera e a iluminação também não jogaram a favor dele. Coisa não muito diferente aconteceu com a vencedora do Oscar Frances McDormand, que precisava de luz na sala para evidenciar as expressões faciais de Jocasta. Jeffrey Wright usou óculos escuros ao fazer o profeta cego Tirésias, mas a luz branca refletia nas lentes e sua conexão parecia a ponto de cair a qualquer momento.
Tendo listado as fragilidades de mais essa transmissão do Oedipus Project, agora durante o Nobel Prize Summit, vamos ao que realmente tem valor quando se pode experienciar ao vivo um evento como esse. Ouvir na voz (e presença virtual) de Frances McDormand as aflições de Jocasta num inglês sem pedantismo, mas mordaz, marca um ponto comigo. David Strathairn como o velho mensageiro de Corinto, aquele que recebeu o bebê Édipo e o deu como presente ao rei, quase me levou ao riso com sua entonação do tipo deixa-disso-menino-tolo. Outro ponto.
David Strathairn como o mensageiro de Corinto
É estimulante ver Frankie Faison como o pastor tebano que salvou Édipo, escapou da chacina em que morreu o rei Laio e se escondeu fora da cidade para não ter que confrontar a verdade, tendo que enfrentar tortura para pôr fim às dúvidas do decifrador de enigmas. Mais um ponto.
Frankie Faison como o pastor
Quem sustenta os 75 minutos de quadradinhos do Zoom é Corey Hawkins como Édipo. Mais um ponto. Ele tinha domínio do texto que estava lendo: uma adaptação, segundo Doerries, que foi dividida em três cenas.
Corey Hawkins como Édipo
A primeira cena, longa, com 50 minutos de duração, se estende na trama até o momento em que Jocasta e Édipo recolhem-se ao palácio depois de terem discutido sobre Creonte e os detalhes da morte de Laio. É suprimida a cena da conversa entre o mensageiro de Corinto e Jocasta. Na cena 2, Édipo já entabula a conversa com o mensageiro que sabe tanto sobre o passado do atual rei de Tebas. Cena curta, de 10 minutos, que se encerra com Jocasta voltando sozinha para o interior do palácio, onde vai se matar. A cena 3 começa com o interrogatório conduzido por Édipo e se encerra, 15 minutos depois, após o cegamento de Édipo, relatado pelo segundo mensageiro, com as palavras de alerta do Coro que concluem a leitura dramática:
People of Thebes, witness the disaster that has levelled King Oedipus, who answered the riddle and rose to great power, whose fortune was the envy of us all. Call no man happy until he crosses the threshold of death free of pain at last.
E o Coro era formado por dois vencedores do prêmio Nobel:
a bióloga Elizabeth Blackburn, que o recebeu em 2009 na área de Fisiologia e Medicina, pela descoberta da telomerase, uma enzima que renova as capas das extremidades dos cromossomos, que se desgastam quando as células se dividem. Sobre seu trabalho, veja o vídeo (18 min.).
o médico Harold E. Varmus dividiu, em 1989, o Nobel, na categoria Fisiologia e Medicina, com J. Michael Bishop pela descoberta da origem celular de ocongenes retrovirais, que são genes relacionados com o aparecimento e crescimento de tumores, malignos ou benignos, descobertos a partir de estudos feitos com retrovírus. Sobre ele, veja o vídeo (15 min.).
Com essa, o Oedipus Project ganhou mais pontos. Se você quer saber mais sobre, afinal, do que se trata esse Theater of War Productions, sugiro ler este post meu.
E ponho fim a este relato, que é mais pra compartilhar a experiência do que para fazer crítica teatral, com um trecho da fala de Édipo, já cego:
Oh, god, where am I going? Where I am being led by this endless misery? Does anyone hear my voice? Is it lost in the wind? Oh, how far I've fallen? To a dreadful place far beyond the reach of our ears and eyes. I'm shrouded in darkness, black thunderclouds swirling around my head, descending into a dark vortex that has plunged me into the gloom of eternal night. Oh, god, oh, god, it stings. It stings. The place where the pins went in reminding me why I gouged out my eyes.
Renata Cazarini
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