COMO DEVO CHORÁ-LOS?


peça-performance-exposição online

projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc


Mito: Antígona, leitura de Sófocles, Brecht e Anne Carson

Idealização: Bernardo Marinho, Chandelly Braz e Pedro Henrique Müller

Dramaturgia: Bernardo Marinho, Chandelly Braz, Juliana França, Marina Vianna, Pedro Henrique Müller e Zahy Guajajara

Direção geral: Marina Vianna

Elenco: Bernardo Marinho, Chandelly Braz, Juliana França, Pedro Henrique Müller e Zahy Guajajara

Direção de produção: Lia Sarno e Marcelo Mucida

Direção de fotografia e vídeo: Bruno Mello

Iluminação e Fotografia: Lara Negalara e Vinicius Cassano

Direção de arte: Débora Crusy e Mariane Chamarelli

Direção musical: Rodrigo Maré

Gravação e Mixagem (trilha sonora): Rodrigo Solidade

Edição: João Marcelo Iglesias e Igor Ramos

Técnico de som: Vinicius Machado

Operação de drone: Carlos Eboli

Programação visual e videografismos: Leandro Felgueiras

Fotografia still: Isabela Espíndola


Temporada: 27 de abril a 2 de maio, terça a domingo

Cada sessão tem duração de 20h às 23 horas no site.





“Como devo chorá-los?” retoma o clássico mito de Antígona e se propõe a identificar as ressonâncias e ecos do mito grego no Brasil de hoje, em meio à pandemia de Covid-19. Assim como as personagens da tragédia - que se encontram cindidas, dilaceradas e em situações-limite -, a realização é marcada pela fragmentação. Um híbrido entre teatro, performance, intervenção urbana, cinema e artes visuais onde o público poderá construir narrativas a partir do seu próprio olhar. “Como devo chorá-los?” se situa nas fronteiras entre diferentes práticas artísticas. Parte da criação é composta por imagens de projeções e intervenções urbanas realizadas em diferentes lugares do Rio de Janeiro, criando relações entre a dramaturgia do projeto e a cidade, e fazendo ecoar recortes desta tragédia. (divulgação)

 

 

Comentário

Abra sua mente para o que se entende, nos dias de hoje, por “dramaturgia”. É imperativo. Pensa comigo: o texto escrito não necessariamente como fala e rubrica, mas argumento de uma performance não necessariamente presencial, ocupando o espaço virtual com uma peça não necessariamente linear.


Ok. Vamos tentar de novo: espaço virtual compartilhado por múltiplos textos não unidimensionais congregados numa exposição de escopo dramatúrgico.


Tá bem. Ainda não deu?! Sugiro que faça um mergulho na experiência multissensorial Como devo chorá-los?, aí dá pra gente conversar. Antes disso, vou contar um pouco como foi comigo.


Deu 20 horas, no dia da estreia, entrei no site, seguindo as orientações. Achei que fosse com uma transmissão com hora marcada, como tem ocorrido com frequência e – pra ser franca – eu não gosto nada. Mas não foi assim. A sessão das 20 às 23 horas significa que você pode entrar ali, no site, em qualquer momento desse intervalo e passear fazendo scroll down na tela do seu computador. Sugiro usar fones também e apagar a luz ambiente. Tudo por uma experiência mais plena.




O que se revela pra você é um repertório de experiências de som e imagem em torno do mito de Antígona. Sim, você tem a história completa (ou praticamente) se quiser ser linear, seguindo de cima para baixo, sem pular nenhuma das possibilidades oferecidas. Mas você pode ser rebelde e saltar opções e voltar a elas depois. É que não é a trama que sustenta Como devo chorá-los?. É a surpresa. É a mudança da frequência – se me entende – que leva a gente de uma sensação a outra ao longo do “espetáculo”.




Tem Antígona e tem Ismene. Tem Creonte e tem Hemon. Mas não importa quem faz o que, porque você vai descobrir ali, sendo curiosa o suficiente, que diferentes atores/atrizes criaram dramaturgias e performances distintas para as mesmas cenas. É como participar um pouco da sala de ensaio. Tem homenagem ao cinema. Muitas cenas memoráveis: Irene Papas em Antígona (Dir. George Tzavellas, 1961) e Maria Falconetti em A paixão de Joana d’Arc (Carl T. Dreyer, 1928). E mais.




Nada do que eu falo pode ser tomado como spoiler porque não tem como pôr em palavras uma montagem que cada um faz como quer. No máximo, você pode pensar num roteiro, como a orientação da rota a seguir numa exposição de arte. Nem estes prints que publico aqui são spoiler, porque lá as imagens estão em movimento. 



Sério mesmo: se há por aí tantos audiovisuais aguardando para tomar os palcos quando acabar a pandemia (será?!), não é o que deveria acontecer com essa dramaturgia. 




O que a gente vê na tela do computador merece ir pra um espaço expositivo, com suportes variados para os visuais e audiovisuais (tela de computador, tela de TV, tela de cinema, parede, chão, teto...), fones e salas ambientes para os áudios. Até a impressão do e-book da dramaturgia, por que não? Avançar em corredores, de uma sala de exposição para outra, descobrindo cenas novas e voltando no meio do caminho para rever o que já viu, constrói uma dramaturgia física mais compatível com esta Antígona.


No Prólogo, tem uma Ode ao homem que representa o Coro. 

Tem o diálogo Antígona/Ismene ou Como devo chorá-los?

Tem Creonte 1 e Creonte 2: você pode escolher um só ou ver os dois.

Tem O gesto Antígona ou O vaso rachado. Tem A captura ou O gesto Creonte.

Tem O lamento de Antígona ou O que mata é nascer. Tem Tirésias ou As Fúrias.

No Epílogo, tem Beloanimal.




E tem mais, muito mais. E aí vem a sacada: uma sessão de 3 horas quase não dá pra ver tudo. Tem muito a explorar. Ver e rever. Ouvir uma vez e a segunda. Tem texto pra ler ao longo da visita, dramaturgia que está reunida no e-book, que pode ser baixado aqui. Mas a dramaturgia não é a escrita. Ficou claro, né?


Renata Cazarini




Comentários