MEDEIA EM FACES – AO VIVO E ON-LINE
Texto: Medeia, de Eurípides
Dramaturgia: Alberto Santiago
Contextualização histórica e simbólica: Fábio Mendes
Direção de produção: Alberto Santiago
Direção artística: Wesley Silva
Imagens: André Nascimento
Elenco: Gabriely Vitória, Laura Mello, Murilo Belvedereze, Nat Mendrot
Realização: Cia. de Teatro Variante
Temporada: 10 a 25 de abril 2021, sáb. e dom., 20h00
Assistido em 10 abr. 2021
Duração: 60 min. + discussão
Plataforma: Zoom
Ingressos gratuitos aqui.
“Medeia em Faces” traz de forma íntima o mito, até hoje recorrente em nossa sociedade, que desafia o tempo ao aproximar a mulher grega da mulher contemporânea provocando o paradoxo da razão x emoção no público, ao julgar essa amante que oscila entre o mito e o humano. (divulgação)
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O projeto amador, porque feito por estudantes, leva o teatro a sério e compensa ver. A trupe Cia. de Teatro Variante, de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, recebeu recursos da Lei Aldir Blanc, fazendo seis apresentações ao vivo, com transmissão online, a partir da estação ferroviária da Central do Brasil na cidade. Depois da transmissão, a gente bate um papo agradável pelo Zoom.
Como perguntei sobre a edição ao vivo das imagens, o diretor artístico, Wesley Silva, mostrou os bastidores com os equipamentos. A opção deles foi usar quatro câmeras, com uma profissional frontal e três celulares, passando pela mesa de corte ali mesmo. Assim, como é claro, o espetáculo – que não é um solo, mas conta com três artistas no papel de Medeia (incluindo Murilo Belvedereze, que também faz Jasão) – não fica naquilo de janelinhas do Zoom nem só na aproximação & distanciamento da lente do celular no Instagram.
Curiosamente, não perde a sensação de teatro ao vivo apesar da edição de imagens, que não se excede. Talvez o fato de ter havido falhas no som no dia em que assisti e de a arquitetura de luz preferir mudanças um pouco abruptas também alimente a sensação de improviso e, por isso, de experiência não radicalmente mediada pela mesa de corte.
Outra escolha da produção que alimenta a “coisa presencial” é que os jovens artistas usam face shields e limpam suas mãos com álcool gel algumas vezes. Essa aproximação da nossa realidade atual é interessante porque quebra a ilusão, a chamada “quarta parede”. Um comentário feito por Fábio Mendes durante o papo: “Os face shields contextualizam muito a tragicidade do nosso momento, são as nossas máscaras gregas”.
Por fim, a dramaturgia é instigante, inserindo notícias de violência contra a mulher e o repertório musical brasileiro, com a vitrola a tocar “O último desejo”, de Noel Rosa, e apresentando práticas religiosas de matriz africana na relação de Medeia com Hécate para assegurar a representação feminina em várias vertentes e diferentes ritos, conforme propõe o título da peça: “Medeia em faces”.
Renata Cazarini
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