MEDEIA – O GOSTO AMARGO DE UM SONHO MORTO (peça virtual)

A temporada foi estendida até 19.12


Tema: Medeia (Eurípides)

Adaptação: Rafael Barbosa, O Dramaturgo

Direção: Goretti Smarandescu e Rafael Barbosa

Elenco: Goretti Smarandescu (Medeia, Jasão, Creonte); Ana Luiza Rios, Joanna Saraiva, Lucélia Pontes, Nádia Oliveira (Coro)

Figurino: Goretti Barros

Trilha sonora: Lucas Melo e Gabriel Barbosa

Realização: Teatro em película

Temporada: 16 (estreia), 17, 18 e 19.dez.2020

Duração: 40 minutos

Plataforma: YouTube

Produto: audiovisual pré-gravado e editado

Instagram: @cabaredoolimpo

Assistido em: 16 dez.20


Medeia burlesca se despindo das amarras machistas. Medeia prontinha para derrubar o patriarcado. (divulgação)



COMENTÁRIO

Medeia está grávida. E vai se vingar. Não há pudores nas cenas desse audiovisual que se apresenta como “peça virtual”, repleta de elementos do burlesco, numa celebração dos dez anos do coletivo Teatro em Película, do Ceará. Trata-se de um espetáculo solo de Goretti Smarandescu, com cenas externas e de estúdio, (des)acompanhada de um Coro de quatro atrizes em cacofonia, sempre em preto e branco. A “peça virtual”, que não foi transmitida ao vivo na estreia, tem trilha sonora própria, acústica, que dá volume a cenas marcantes, apesar de problemas de iluminação (sombras) em estúdio.


Nesse solo, Goretti se vira entre Medeia, Jasão e Creonte – portanto, não se trata de um monólogo. Uma bela solução foi dada ao diálogo com Creonte: a atriz estraçalha um caderno de desenhos infantis, com os ruídos persistentes das páginas arrancadas e amassadas agudizando a tensão. Creonte, conforme a tradição, dá mais um dia a Medeia. Ela partiria grávida para o exílio no dia seguinte. Creonte diz: “Espero que esta criança nasça bem; o pai irá buscá-lo quando for a hora”. A vingança com a vestes envenenadas contra pai e filha que reinam em Corinto se consuma num relato. Jasão espera ter um filho homem: “Tenha essa criança e me entregue”. Medeia quer ter direito sobre o ventre: “Esta criança é minha!”. Mas o desfecho é trágico, claro.


Atualizando o mito, transformado numa denúncia contra o patriarcado, Medeia exerce o que entende como seu direito sobre o próprio corpo e provoca um aborto químico, solitária em seu banheiro. Dados do IBGE aparecem num frame final como parte do argumento: “Como consequência do abandono, sete a cada 20 mulheres cogitam a ideia do aborto”. O mote da peça: “Somos, como Prometeu, acorrentadas, acorrentadas. Eles bicam nosso fígado”. Aqui, homens são aves de rapina.

Renata Cazarini




  

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