EFEITO CASSANDRA, O ISOLAMENTO


Audiovisual, melhor experiência com fone.


Mito: Cassandra

Direção e dramaturgia: Cláudia Schapira

Atriz-performer: Luaa Gabanini

Direção musical: Eugenio Lima

Inserção de imagens: Bianca Turner

Direção de fotografia e montagem: Matheus Brant

Produção: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos

Duração: 45 min.

Visto em 26 abr.2021

Plataforma YouTube


Versão especialmente realizada para vídeo do espetáculo “Efeito Cassandra”, de 2016. No enredo, um fone de ouvido emite narrativas que a atriz desconhece, mas precisa contextualizar ao público, dando corpo a questões feministas. Parte da Ação Cultural da Biblioteca Mario de Andrade. (divulgação)





Comentário

Eu cheguei a escrever o título deste post assim: CASSANDRA, ESTA VOZ TAMANHA.


Mas como a peça audiovisual tem outro nome, respeitei o padrão que eu mesma impus ao blog e intitulei o post Efeito Cassandra, o isolamento.


Mas contra mim mesma, duas vezes, digo agora que eu podia, sim, ter dado outro título, uma vez que a peça já teve outro nome: Efeito Cassandra, na calada da voz.


O espetáculo tem história. Estreou no circuito Sesc SP em 2016. Eu vi presencialmente duas vezes em 2017, e fiz um breve comentário aqui. O espetáculo esteve em cartaz em 2018 também. Depois, perdi a trilha. Agora vem numa versão audiovisual de 45 minutos. Quando vi no teatro, tinha 80 minutos. Uma versão do tipo teatro filmado pode ser vista aqui.


Mas acontece que teve muita gente boa envolvida em fazer a edição que estreou no canal da Biblioteca Mario de Andrade (a principal biblioteca municipal de São Paulo) no YouTube neste 26 de abril de 2021. Eu vi na estreia, no formato que se tornou tão frequente: ter na “plateia” do chat a equipe da produção e os amigos chegados e outros que estão lá porque estão lá (como eu).


[Sentado ao meu lado], estava o diretor musical Eugenio Lima, que me esclareceu ter tomado dois dias a gravação. Quero destacar a mudança do espaço cênico, praticamente esvaziado de elementos, o que exerce mais pressão sobre a performer Luaa Gabanini, a meu ver. 




Ela começa explicitando o que parece evidente na comparação entre 2021 e 2016:

“Era um momento em que o país parecia que tinha chegado ao fundo do poço, e agora tou pensando que a gente não tinha a menor ideia do que era o fundo do poço”.


Faz sentido pra você? Pra mim, também!


Aliás, cinco anos depois da estreia, a peça ainda faz todo sentido. Estamos ainda – e sempre, parece – discutindo a subjugação da mulher e a violência contra ela.


“A colonização começou pelo útero, já disse uma jovem poeta [Luiza Romão] nestes tempos sombrios. A colonização começou pelo útero, esse portal de onde todos, eu disse todes, eu disse todas viemos. Tão desconhecido, tão misterioso, imenso, controverso”.


Cassandra, a profetiza desacreditada da mitologia grega, vítima da pulsão violenta de Apolo e da estupidez de quem não a quis ouvir, aqui tem voz. E uma tamanha voz.



O vídeo é dividido em seis cenas: Contra-profecia I: A maldição ou O que querem que eu seja; Contra-profecia II: Aquilo que tentaram nos tornar ou O que realmente somos; Contra-profecia III: Tentativas de dominação; Contra-profecia IV: Pensar é profundamente feminino; Contra-profecia V: Louvação aos mortos; Contra-profecia VI: Efeito Cassandra ou Afinal é disso que se trata.



“Nos tempos de peste, nos tempos de assombro, escombros sombrios da ignorância, os artistas são repelidos, calados, cassândricos e proféticos refreados”.


“Onde houver uma Cassandra vociferando para ser ouvida, lá venho eu, do fundo do tempo, para poetizar as suas causas e levantar junto os meus braços”. 


E é com uma série de profecias feitas por 16 mulheres que não se cala essa Cassandra. Nem no isolamento.

Renata Cazarini




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