Efeito Cassandra – Na calada da voz



Mito: Cassandra
Dramaturgia: não há texto fixo, é feita nova experimentação a cada dia
Temporada: 19.05 a 28.05.17
Local: Teatro Centro da Terra | São Paulo (SP)
Direção e dramaturgia: Claudia Schapira
Concepção geral: Claudia Schapira e Luaa Gabanini
Produção executiva: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Performer: Luaa Gabanini
Assistido em: 26.05.17
Duração: 80 min

Espetáculo que navega entre o teatro e a performance. (Divulgação)

Os elementos e as instruções são reorganizados a cada dia a partir do dia anterior, de forma que a atriz não assimile o roteiro. Estamos em experimentação todos os dias. (Apresentação do espetáculo: voz off)

“Meu nome é Cassandra. Eu sei que tudo o que eu disser será usado contra mim. Desde o começo foi assim, eu disse ‘não’ e amaldiçoaram minha voz. Mesmo assim não consigo me calar, não. Não consigo me calar, não. Não consigo me calar na Praça da Sé. Não consegui me calar aos pés do templo. Não consigo me calar em nenhum lugar, em nenhum templo novo. Cavalgada e cavalgando. Eu que sou cavalo e também sou Troia”. (Trecho da fala de Cassandra)

NOTA BENE

O espetáculo estreou em 2016, no circuito Sesc, incluindo a unidade de Bauru (SP) e Ipiranga na cidade de São Paulo (27/5 a 19/6/2016).




Comentário

O espetáculo realmente se altera de uma apresentação para outra, como pude constatar ao tê-lo visto em duas oportunidades distintas. A performer faz uma Cassandra enérgica, que tomada pelo deus, se lança ao chão e manipula objetos no palco, incluindo uma bacia com pedaços de melancia que, esmagadas, representam o sangramento feminino. Mas a mulher-Cassandra sangra também pela boca. 

O espetáculo de maio de 2017 a que assisti incluía gravações da fala do presidente Michel Temer negando a renúncia e menção ao impeachment de Dilma Rousseff, ocorre ainda referência histórica, com Cassandra tornada Frida Kahlo (1907-1954). Frases recorrentes na peça, como “Vai, Cassandra, vai” e “Eu não vou me calar”, revelam a proposta ideológica de resistir à opressão. “Falei, pronto, falei”. (Renata Cazarini)