PROCESSOS: ÉDIPO +ANTÍGONA; MEDEIA
Fiquei sabendo só nestes últimos dias de dois processos dos quais já dá pra falar alguma coisinha.
TEBAS será um espetáculo dos 20 anos da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, ou só Cia. Elevador, contemplado pelo prêmio Zé Renato, da Prefeitura de São Paulo, com o montante de R$ 278 mil. Pode-se dizer que “entrou no ar” no último dia de abril um vídeo de 50 minutos que trata do processo cênico, intitulado Escavando Tebas. Veja neste link.
O diretor da Cia. Elevador, Marcelo Lazzaratto, será Édipo. Ele também dirige e é o narrador do vídeo que apresenta os demais atores e respectivos papéis, bem como descreve os procedimentos adotados na adaptação do que ele chama de “a trilogia tebana” (como na tradução de Mario da Gama Kury), englobando Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona, todas peças gregas de Sófocles (século V a.C.).
O vídeo traz comentários dos docentes Isa Kopelman e Flávio Ribeiro de Oliveira, ambos da Unicamp, onde Lazzaratto também é professor. Mesmo assim, o diretor coloca “os clássicos como estruturantes do processo civilizatório” – o grifo é meu, porque me espanta esse tipo de afirmação frente às mais recentes discussões sobre a instrumentalização dos clássicos na abonação de estruturas opressoras como o imperialismo, o racismo, o patriarcado.
Ele se põe a pergunta: “Por que ir aos mitos?” E responde: “Os mitos organizam os valores e os questionamentos de uma sociedade. Eles são um território estável sobre o qual a sociedade vai se debater sem se perder em inúmeras possibilidades”.
Hum... Não sei, não. Me parece bem salutar que “a sociedade” ponha em xeque até os mitos mais conhecidos, desestabilizando sua interpretação. Há inúmeros exemplos que tenho publicado aqui no blog. E se perder para depois se achar soa como música pros meus ouvidos.
O projeto da Cia. Elevador se apega à fala, como vem explicado ali no vídeo. Tomando Roland Barthes (1915-1980), afirmam: “O que é o mito hoje? O mito é uma fala”. Depois, complementam: “Se o mito é uma fala, a palavra deve ser valorizada. Queremos olhar a ela, vocalizá-la em toda sua espessura”. Por fim: “Se o mito é uma fala, é preciso cuidar dos ouvidos”.
Além de Barthes, o vídeo revela que consideraram no processo Viveiros de Castro, Judith Butler, Antonin Artaud. Também apontam que o novo espetáculo é descendente direto de Ifigênia, montagem da trupe de 2012, sobre a qual se pode ler nesta publicação e ver aqui. Não vi divulgada data de estreia (virtual ou presencial) da nova peça, TEBAS.
Nicole Cordery, que será Medeia (crédito: João Caldas)
Outro processo é TERRA MEDEIA, baseada na peça Medealand da autora sueca Sara Stridsberg. Fico devendo essa leitura, mas não tenho o livro na sua edição francesa, que eu conseguiria ler. Sueco, não dá. Sobre a obra de Stridsberg, incluindo Medealand, pode-se ler, em inglês, aqui.
Na editora francesa pode-se encontrar um resumo da peça, que foi montada na França em 2015. Dessa montagem, fotos, um teaser e uma crítica podem ser vistos aqui.
Sem o texto em mãos, posso falar o que foi discutido durante uma live neste domingo, 2 de maio. A tradução do sueco para o português ficou por conta da diretora sueca Bim de Verdier, que é fluente em português, e Nestor Correia.
Essa versão contemporânea da Medeia de Eurípides tem entre os personagens a mãe da princesa da Cólquida, papel que caberá à diretora, acumulando também o de deusa. Medeia é uma imigrante de 27 anos, sem emprego, sem endereço físico, sem relações com parentes, recebida numa instituição depois de ter matado seus dois filhos. Na peça de Stridsberg, Medeia se torna um caso clínico, mas, segundo a diretora, a personagem escapa do arquétipo de louca: “Ela é acima de tudo uma mulher numa situação limite, estrangeira, apaixonada, mas nada resolvida”.
A montagem brasileira prevê uma combinação de encenação ao vivo com audiovisual, que a atriz Nicole Cordery, como Medeia, tem gravado no estúdio de @joãocaldasfilho. O elenco conta também com Rita Grillo, Daniel Ortega, Renato Caldas, André Guerreiro Lopes, A estreia está programada para 22 de maio, 17 horas, na Plataforma Teatro, gratuitamente. Serão oito apresentações aos sábados e domingos, até 13 de junho, com duração de 60 minutos. Uma apresentação presencial está sendo programada para novembro.
O projeto TERRA MEDEIA foi contemplado no edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc.
Renata Cazarini
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