ORESTEIA.BR

 

ORESTEIA.BR
Textos: Ésquilo, Eurípides, Pier Paolo Pasolini
Concepção: Turma 71 da EAD/USP
Dramaturgia: José Fernando Peixoto de Azevedo
Direção geral: José Fernando Peixoto de Azevedo
Elenco: Bruno Vaz, Caio Nogali, Daiane Gomes, Luisa Silva, Filippe Rosenno, Julio Aracack, Thai Muniz, Tricka Carvalho
Direção musical: Carmina Juarez
Piano: Natália Nery
Câmera em cena/imagens: André Voulgaris
Desenho de luz: Denilson Marques
Espaço de cena: José Fernando Peixoto de Azevedo
Figurino: José Fernando Peixoto de Azevedo, Prezada Companhia, Silvana Carvalho
Máscaras: Bete Dorgam e Thai Muniz
Adereços/objetos de cena: Paulo Basílio
Consultoria técnica: Beatriz de Paoli, JAA Torrano, Milena Faria, Sandra Sproesser
Temporada: 16 mar. a 9 abr. 2023
Duração: 240 min. com dois intervalos
Horários: 5ª, 6ª e sáb. 19 – 23 horas; dom. 17 – 21 horas
Local: TUSP – São Paulo
Assistido em 30 de março de 2023
Ingressos

Sinopse

Em cena, a saga dos Atridas, desde o sacrifício de Ifigênia, pelo pai, o rei Agamêmnon, como condição para a partida das frotas até a destruição de Troia e o resgate de Helena, sequestrada por Páris. Dez anos depois, em seu retorno, Agamêmnon é assassinado pela rainha Clitemnestra e seu amante Egisto, como vingança pela morte da filha. Tempos depois, o filho, Orestes, com a ajuda da irmã, Electra, vinga a morte do pai, assassinando a mãe, o que o leva a um julgamento no contexto de um novo tribunal, instaurado pela deusa Atena. (divulgação)


Ifigênia @c.oviedoph


O que dá pra dizer por ora
Ainda não vi, mas essa é uma ótima oportunidade. A peça já esteve em cartaz, com 30 minutos a mais, entre 27 de agosto e 5 de setembro de 2022, na Cidade Universitária, montagem da 71ª turma da Escola de Arte Dramática da USP. Não deu pra eu ver naquela época. Agora eu vou, mas só no final do mês. Daí que o que sai publicado aqui é mais ilustração do que informação sobre o espetáculo. Mil perdões.
O projeto envolveu pesquisa, não resta dúvida, porque são listados consultores, colegas nossos das Clássicas, e as traduções dos textos utilizados na dramaturgia são até mencionadas, coisa rara: Oresteia, de Ésquilo, Manuel de Oliveira Pulquério, JAA Torrano; Ifigênia, de Eurípides, JAA Torrano; Pílades, de Pier Paolo Pasolini, Alex Calheiros; Oresteia, o canto do bode, adaptação de Reinaldo Maia.
Parte substancial do que faço no blog é agregar informações dispersas, passando por um crivo técnico, que é o meu (sujeito a reparos de todes), na expectativa de formular um texto que faça sentido, que traga dados confiáveis e, por isso mesmo, úteis para pesquisa acadêmica e não só.


Orestes @c.oviedoph

Então: a @prezadaciadeteatro é um coletivo formado na EAD em 2022, durante o processo de montagem de Oresteia.br. Esse tipo de ação é frutífero no Brasil. Entre 1997 e 2016, @josefernandopeixotodeazevedo foi diretor e dramaturgo, além de ter sido fundador, do Teatro de Narradores, surgido na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).

A experiência social brasileira e sua posição no mundo, a partir de uma visada dialética que inscreva a prática artística nos processos de configuração de tal experiência, definem, em parte, sua (de José Fernando) perspectiva de trabalho, fazendo imbricar teatro e cinema na materialidade da cena, voltando sempre a uma aliança com Bertolt Brecht e Glauber Rocha, referências decisivas. Mas foi no encontro com a obra de Pier Paolo Pasolini, do qual resultaram dois trabalhos – Pílades (2010) e Estamos todos em perigo (2016), este último também como performer –, que uma inflexão se deu em seu programa de trabalho, refletindo sobre outras formas de interrogar sobre o processo de modernização conservadora no Brasil.


Essa descrição consta do site da rede de produtores Corpo Rastreado, criada em 2005. Em linha com as ideias acima, surgem as perguntas abaixo:

ORESTEIA.BR nasce da tentativa de elaborar algumas perguntas, em meio a tanta perplexidade a nos tomar. O que ainda podemos fazer juntos? Quem integra o coro? Qual o valor de uso da mentira? Como pronunciar palavras propícias? Ao texto de Ésquilo somamos trechos de Eurípides (Ifigênia em Áulis) e de Pasolini (Pílades), compondo um material que nos permite cravar na encruzilhada-Brasil nossos corpos em estado de combate. (divulgação)


Cena de Oresteia.br @c.oviedoph


A atriz e encenadora Milena Faria, com formação acadêmica em Letras Clássicas na USP, foi uma das consultoras do projeto. Ela fez um breve relato a pedido do blog:


A convite de Sandra Sproesser e do diretor José Fernando Peixoto de Azevedo, conversei com a turma 71 da EAD sobre a recepção das tragédias de Eurípides e Ésquilo, sob a óptica de Aristófanes n’ As Rãs. Para isso, primeiro contextualizei o aspecto político dos festivais de teatro e a peculiaridade de uma plateia com grande competência para analisar as obras e compará-las entre si, mesmo que houvesse uma distância cronológica grande entre elas.
A partir dessa contextualização, pudemos discutir como, n’As Rãs, a partir do ponto de vista cômico, conseguimos, mesmo que de modo hiperbólico, extrair algumas características das tragédias de Ésquilo e Eurípides, quais sejam, o modo da performance, a linguagem elevada e até mesmo enigmática de Ésquilo em contraposição a uma linguagem mais cotidiana de Eurípides. Para além da forma, os valores defendido por cada tragediógrafo também foram contrastados, Ésquilo, defendendo a tradição, o valor bélico, a solenidade e a piedade, no respeito aos deuses. Eurípides, por sua vez, questionando a tradição, a crença aos deuses, revelando as mazelas da guerra e utilizando em suas tragédias personagens que não pertenciam à aristocracia.
A partir dessa comparação mais genérica, pudemos então analisar passagens da peça, tendo sempre em vista como se deu a recepção de Aristófanes e seus contemporâneos a Ésquilo. O contexto político d’As Rãs também foi analisado, de modo a que se pudesse entender a escolha feita por Dioniso pelo retorno de Ésquilo para salvar Atenas. 
A partir dessas informações, então, os alunos fizeram perguntas e tiveram um ponto de vista diferente sobre o trabalho de Ésquilo.

Passada a pandemia da covid-19, sua marca fica, além das quase 700 mil mortes no país, fica, eu dizia, no cartaz da peça montada no ano passado em que ainda se exigia o uso de máscara sanitária e comprovante de vacinação. Para esta temporada, a assustadora imagem de fundo foi mantida.

Agora, em 2023, voltamos à tragédia e, certamente, é com os olhos do presente que lançamos nossas perguntas ao material. Isto, num momento em que as práticas de extermínio confrontam as perspectivas democráticas. Na contramão da visão trágica grega, a “nossa tragédia” evidencia: o sofrimento nada ensina. (divulgação)

O diretor José Fernando Peixoto de Azevedo: "Resta-nos um pouco de uma certa consciência trágica: reconhecer a distância que separa aquilo que imaginamos ser daquilo que nos tornamos, e escolher seguir. Alguns ainda dão, a essa fratura, o nome de Brasil."


Mostra Teatro Pós-trauma

Depois da Oresteia.br, entrará em cartaz no TUSP outra peça que retoma a mitologia antiga, integrando a Mostra Teatro Pós-trauma, três peças que abordam criticamente a crise da democracia no Brasil.


Um Memorial para Antígona
Realização: @comiteescondido
Direção: Vicente Antunes
Temporada: 20 abr. – 14 mai. 2023

Sinopse

Partindo da construção ficcional de um memorial para Antígona, o espetáculo discute a questão da pactuação nacional que se deu no Brasil na transição entre a ditadura militar e o período democrático. Em cena, sete atores manipulam documentos sobre a criação da Lei da Anistia de 1979, ao mesmo tempo em que, através de depoimentos das personagens gregas, contam o mito da Antígona, fazendo com que o mito grego ecoe na história nacional. (divulgação)

Em 2020, o novo processo do grupo, Um memorial para Antígona, teve sua estreia adiada em virtude da pandemia. Desse processo interrompido, nasceu Antígona Sonora, uma produção online sobre a qual escrevi aqui. Em 13 de setembro de 2022, o Itaú Cultural recebeu em São Paulo a peça ainda em processo, que estreia no TUSP.

A proposta do espetáculo presencial é examinar em detalhes as atas do Congresso brasileiro relativas à lei de anistia, que conciliou o retorno dos exilados com o perdão aos torturadores: “Os discursos dos deputados e senadores dos dois partidos operantes à época, Arena e MDB, são pontuados pelas falas das duas filhas de Édipo, Antígona e Ismene, divididas entre submeter-se ou não ao tio e tirano de Tebas, Creonte, que decidiu impedir o sepultamento do sobrinho Polinices. O debate de Antígona com a irmã imanta as contradições e consequências funestas do apagamento dos crimes da ditadura”. (divulgação)

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