ANTÍGONA SONORA (espetáculo sonoro)

 


O que eu posso lhes dizer é o que acontece depois que a guerra acaba


Texto: Julia Pedreira, Rafael de Sousa e Vicente Antunes Ramos

Diretor: Vicente Antunes Ramos

Elenco: Joy Catharina (Ismene), Rafael de Sousa (Guarda), Danilo Arrabal (Polinices), Giovanna Monteiro (Antígona), Julia Pedreira, Isabela Bustamanti e Victor Rosa (Coro e ruídos)

Criação e composição sonora: Danilo Arrabal, Eduardo Joly, Giovanna Monteiro, Isabela Bustamanti, Joy Catharina, Julia Pedreira, Mariana Carvalho, Rafael de Sousa, Vicente Antunes Ramos e Victor Rosa

Mixagem e montagem de áudio: Eduardo Joly, Mariana de Carvalho, Vicente Antunes Ramos e Victor Rosa

Realização: Comitê Escondido Johann Fatzer 

Produção: Leonardo Birche

Site, identidade visual e comunicação: TUWE

Temporada: 19.ago-18.set.2021

Quintas, sextas e sábados – 19 às 21:30 horas

Duração: 38 minutos

Site do espetáculo

Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc

Gratuito


SINOPSE

O espetáculo sonoro ressoa onde mora o espectador-ouvinte, convidado por vozes a percorrer os espaços de sua casa e adentrar o mito de Antígona através dos tempos. (divulgação)

 

NOTA BENE

O Comitê Escondido Johann Fatzer é fruto do encontro de artistas de diferentes formações, interesses, lugares e crenças que se reuniram pela primeira vez em 2017. Desde então fazem esse movimento de reunir uma comissão quando necessitam elaborar um projeto artístico, que geralmente nasce através da urgência de dialogar com o tempo histórico em que se vive. Assim, os artistas envolvidos são todos autores do que é criado, contribuindo de diferentes formas para a criação de uma obra coletiva e polifônica. O intuito é a experimentação através de materiais, seja no texto, no corpo, na voz, na encenação como um todo.


Em 2020, o novo processo do grupo, Um memorial para Antígona, teve sua estreia adiada em virtude da pandemia do novo coronavírus.  O comitê volta o olhar para o debate da criação da Lei da Anistia, de 1979, que foi responsável por perdoar os crimes cometidos por agentes do Estado durante a Ditadura Militar (1964-85). Desse processo interrompido, nasceu Antígona Sonora, novo espetáculo do grupo. (divulgação)


Comentário

A experiência sonora proposta pelo grupo a partir do mito de Antígona é apresentada como se fosse uma peça de teatro, mas para ouvir com fones. Como serão dadas instruções de movimentação pela casa do espectador-ouvinte, melhor conectar-se pelo celular.


A gravação tem início com uma orientação de como será “vivenciar” a peça, com convites para dirigir-se à cozinha, a um cômodo com espelhos, até a janela que dá pra rua – sugestões que podem ou não ser seguidas pela audiência.


Quatro personagens do mito de Antígona, conforme relatado na peça de Sófocles, atuam na peça sonora.


A primeira voz é Ismene, a irmã que não enterrou Polinices, dona de um rádio relógio que traz notícias, como a explosão no Líbano em 4 de agosto de 2020, que aproxima Beirute de Tebas: “As vozes dos mortos vêm junto”.  


A segunda voz é o Guarda que arrasta Antígona até Creonte, mas que lamenta ter acertado com bala de borracha o olho de um menino no Amapá, em novembro de 2020, durante protestos contra o apagão: “Eu queria acertar era ela”.


A terceira voz é Polinices, o morto sem funeral, que fala de dentro das entranhas dos urubus: “A vaga lembrança de um mito”. A quarta voz é, finalmente, Antígona, que fala do coração da terra: “Eu sou apenas um mito evocado em tempos de cólera”.





A peça sonora dura menos de 40 minutos, mas há também um site com material complementar, subsídios da dramaturgia: Nicole Loraux, Primo Levi, Giorgio Agamben, Grada Kilomba, Sebastião Salgado.


“Pensamos o trabalho como uma peça mesmo, com começo, meio e fim. O espectador tem que entrar no site na hora certa e viver aquilo ali; não é algo que está disponível 24h por dia, como um podcast”, explica o diretor Vicente Antunes Ramos.


Giovanna Monteiro, atriz do coletivo, complementa: “Num momento em que todos ficamos saturados pelas telas, nos pareceu potente buscar o caminho da experimentação através do som. Isso era algo que já acontecia em nosso processo, então foi natural a passagem para esse novo meio. E a voz traz uma afetividade, uma proximidade, que pareceu algo a ser explorado nesse momento de distanciamento social”.


A experiência me fez lembrar de “Como devo chorá-los”, outro projeto de uma dramaturgia desafiadora, também baseado na Antígona de Sófocles, mas que me parece mais disruptivo. Escrevi sobre essa experiência aqui.

Renata Cazarini



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