TRILOGIA HAMARTÍA, DE JAHA KOO: TEATRO BEM OCIDENTAL
A armadilha da MITsp 2024 foi
trazer como artista em foco o sul-coreano Jaha Koo, que faz teatro
ocidental contemporâneo. Outras experiências cênicas podem ter, de fato,
deslocado a MITsp do centro, como é/foi a proposta curatorial deste ano, mas
não a trilogia Hamartía. E isto não é uma denúncia ou queixa, apenas uma
constatação crítica.
Ponto pra mim afinal, acredito,
já que demorou dias pra poeira baixar depois da trilogia, e as ideias fazerem
sentido e as sensações recônditas aflorarem. Exercitei a paciência e a cautela.
Ajudou muito, também (fica a dica), assistir a diferentes cenas da MITsp, uma
amostragem saudável que incluiu a sul-africana Broken Chord (1º mar.), a
argentina Wayqeycuna (3 mar.), a libanesa Told by my mother (7
mar.). Alguns títulos, para difusão internacional, vêm assim, em inglês.
Também vi quatro cenas da
Plataforma MITbrasil, que nada têm do, digamos, teatro ocidental: Ané das
Pedras e, radicalmente oposta, Eunucos (6 mar. 24); Lança cabocla
e, só à primeira vista, também óleo e água, O que mancha (7 mar. 24). São
experimentos cênicos com diferentes graus de enraizamento.
Jaha Koo é mais um artista em
foco branco (que ele não se ofenda) como o suíço Milo Rau (2019) e o
português Tiago Rodrigues (2020) – e antes que se pense o contrário,
digo já que sou fã de ambos. Aliás, dos três. É, acontece que trabalho com os
clássicos e os meus processos mentais devem ser viciados. Deixo o P.S. de que
sou fã de dramaturgas brasileiras.
O sul-coreano tem uma pegada
teatral que me faz antecipar sua colocação como diretor artístico de algum
festival na Europa, onde ele já habita. É o que fazem hoje Rau, à frente do
Festival de Viena, e Rodrigues, diretor do Festival de Avignon.
Hamartía foi escolhido como título para
transmitir o “common tragic flaw”, a falha trágica que é comum a todos, já que
não se considera mais a existência de um Édipo, de uma Antígone. É autoficção?
Supostamente, documental. Tem fotos do encenador como ele mesmo. Mas já se sabe
que não se confia na palavra de um artista.
CUCKOO
Interessa pensar como o dramaturgo e encenador se insere na
história do teatro coreano a partir dessa trilogia e, talvez, acima de tudo
dessa segunda parte da trilogia Hamartía, considerando-se o pós-humanismo,
bandeira levantada pelo autor. O mais singular é a interface do ator-performer
com outras atuantes, três panelas de pressão da marca Cuckoo, para cocção de
arroz, com nomes próprios, pois são personagens: Hana, Duri e Seri. A segunda
delas, Duri, toma a frente de um diálogo insólito com a terceira, Seri, já que
a primeira, Hana, é identificada como sem habilidade de comunicação oral. Seri,
que reaparece na terceira parte da trilogia, não é capaz de cozinhar arroz por
causa da placa de LCD instalada para exibir imagens.
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Jaha Koo em 2 mar. 24 no Sesi-SP |
No bate-papo com o público em 2 de março, após a apresentação
no Teatro do Sesi-SP, Jaha Koo esclareceu que tinha planos de trabalhar com o
conceito do pós-humanismo quando teve uma singular experiência de “golibmuwon”
– o isolamento sem apoio – ao ouvir uma panela informar que o arroz estava
cozido. Foram dois anos, segundo ele, até que conseguisse inserir inteligência
suficiente para promover o utensílio doméstico a personagem com algum índice de
“movimento”, que ele exemplifica com os leds coloridos em sintonia com as falas
e imagens no painel de LCD de Seri.
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Cuckoo Seri |
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Cuckoo Duri |
[... texto incompleto, e assim se revelam os bastidores de um blog não profissional.]
Cuckoo trata do passado e do presente [falta a parte da economia], mas Jaha Koo se propõe a tratar do futuro na última parte da trilogia, A história do teatro ocidental coreano. Entra em cena novo aparato robótico, Toad, um sapo derivado de uma grande dobradura de origami, que vai tomando forma no palco pelas mãos do performer.
Veja: Bibisae, blessthe future.
Leia: The History of Korean Western Theatre by Jaha Koo
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