TRILOGIA HAMARTÍA, DE JAHA KOO: TEATRO BEM OCIDENTAL

 

Post redigido originalmente em 12 mar. 2024.
Publicado mais de um ano depois, sem alterações e incompleto. 

A armadilha da MITsp 2024 foi trazer como artista em foco o sul-coreano Jaha Koo, que faz teatro ocidental contemporâneo. Outras experiências cênicas podem ter, de fato, deslocado a MITsp do centro, como é/foi a proposta curatorial deste ano, mas não a trilogia Hamartía. E isto não é uma denúncia ou queixa, apenas uma constatação crítica.

Ponto pra mim afinal, acredito, já que demorou dias pra poeira baixar depois da trilogia, e as ideias fazerem sentido e as sensações recônditas aflorarem. Exercitei a paciência e a cautela. Ajudou muito, também (fica a dica), assistir a diferentes cenas da MITsp, uma amostragem saudável que incluiu a sul-africana Broken Chord (1º mar.), a argentina Wayqeycuna (3 mar.), a libanesa Told by my mother (7 mar.). Alguns títulos, para difusão internacional, vêm assim, em inglês.

Também vi quatro cenas da Plataforma MITbrasil, que nada têm do, digamos, teatro ocidental: Ané das Pedras e, radicalmente oposta, Eunucos (6 mar. 24); Lança cabocla e, só à primeira vista, também óleo e água, O que mancha (7 mar. 24). São experimentos cênicos com diferentes graus de enraizamento.

Jaha Koo é mais um artista em foco branco (que ele não se ofenda) como o suíço Milo Rau (2019) e o português Tiago Rodrigues (2020) – e antes que se pense o contrário, digo já que sou fã de ambos. Aliás, dos três. É, acontece que trabalho com os clássicos e os meus processos mentais devem ser viciados. Deixo o P.S. de que sou fã de dramaturgas brasileiras.

O sul-coreano tem uma pegada teatral que me faz antecipar sua colocação como diretor artístico de algum festival na Europa, onde ele já habita. É o que fazem hoje Rau, à frente do Festival de Viena, e Rodrigues, diretor do Festival de Avignon.


Hamartía foi escolhido como título para transmitir o “common tragic flaw”, a falha trágica que é comum a todos, já que não se considera mais a existência de um Édipo, de uma Antígone. É autoficção? Supostamente, documental. Tem fotos do encenador como ele mesmo. Mas já se sabe que não se confia na palavra de um artista.

CUCKOO

Interessa pensar como o dramaturgo e encenador se insere na história do teatro coreano a partir dessa trilogia e, talvez, acima de tudo dessa segunda parte da trilogia Hamartía, considerando-se o pós-humanismo, bandeira levantada pelo autor. O mais singular é a interface do ator-performer com outras atuantes, três panelas de pressão da marca Cuckoo, para cocção de arroz, com nomes próprios, pois são personagens: Hana, Duri e Seri. A segunda delas, Duri, toma a frente de um diálogo insólito com a terceira, Seri, já que a primeira, Hana, é identificada como sem habilidade de comunicação oral. Seri, que reaparece na terceira parte da trilogia, não é capaz de cozinhar arroz por causa da placa de LCD instalada para exibir imagens.

Jaha Koo em 2 mar. 24 no Sesi-SP

No bate-papo com o público em 2 de março, após a apresentação no Teatro do Sesi-SP, Jaha Koo esclareceu que tinha planos de trabalhar com o conceito do pós-humanismo quando teve uma singular experiência de “golibmuwon” – o isolamento sem apoio – ao ouvir uma panela informar que o arroz estava cozido. Foram dois anos, segundo ele, até que conseguisse inserir inteligência suficiente para promover o utensílio doméstico a personagem com algum índice de “movimento”, que ele exemplifica com os leds coloridos em sintonia com as falas e imagens no painel de LCD de Seri.

Cuckoo Seri

Cuckoo Duri








     [... texto incompleto, e assim se revelam os bastidores de um blog não profissional.]

Cuckoo trata do passado e do presente [falta a parte da economia], mas Jaha Koo se propõe a tratar do futuro na última parte da trilogia, A história do teatro ocidental coreano. Entra em cena novo aparato robótico, Toad, um sapo derivado de uma grande dobradura de origami, que vai tomando forma no palco pelas mãos do performer.

Veja: Bibisae, blessthe future.

Leia: The History of Korean Western Theatre by Jaha Koo

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