No cinema com Andrea Beltrão: ANTÍGONA 442 a.C.


Cheguei no cinema uma hora antes achando que, bem, que, como não havia lugar marcado na sala, a fila seria grande já que é a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Outro fator preocupante era que, embora um filme sobre mitologia antiga, a protagonista é famosa, global e tal. Que nada. No primeiro dia da 45ª Mostra (21/10/2021), nem mesmo a limitação de 50% da ocupação da Sala 1 do Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta lotou. E a Andrea Beltrão e o diretor Maurício Farias estavam lá. Em presença. Segundo eles, vendo um filme na telona pela primeira vez desde o início da pandemia. Desde março de 2020.


Óbvio que, estando ambos lá, apresentaram o filme. Segundo Farias, que pegou primeiro o microfone, o filme, considerado pelo diretor “uma tentativa de aproximação entre cinema e teatro”, é resultado de uma “inquietação” surgida logo no início da pandemia, baseado na peça “Antígona”, projeto do encenador Amir Haddad e de Andrea Beltrão que estreou em 2016 e seguiu carreira até 2019.


“É impressionante que após 2.500 anos a gente ainda tenha tiranos pelo mundo, mas a gente tem a sorte de ter centenas, milhares de Antígonas pelo mundo”, comentou Farias. Andrea completou: “Eu também acho que todo dia nascem muitas Antígonas. Um dia essa história talvez seja apenas uma história velha da qual a gente vai se lembrar, mas por enquanto ela serve para inspirar a gente a fazer muitas coisas fortes e legais”.


Coloco aqui menos de um minuto de gravação (precária, sinto muito).




A própria Andrea reconhece a peculiaridade do filme.


Eu gostei do que vi. Não se trata da peça filmada, mas de um blend de bastidores do teatro, processo e encenação. Não há dúvida que Andrea explora e revela sua força dramática. Ela explora bem as oportunidades para “cacos” na dramaturgia (por exemplo, Édipo como “rei das palavras cruzadas” já que desvenda o enigma da Esfinge), mas o forte é mesmo a performance trágica. Não é o mesmo que ver a peça ao vivo, até onde me lembro, mas isso foi em 2017. Veja meu comentário aqui. Acho que eu estava/era mais exigente.


Quero dizer que o filme é independente da peça. Outro produto cultural. E isso é bom. São meios distintos, resultados distintos. Há momentos em que os dispositivos cinematográficos se evidenciam: quando há um jogo entre bastidores e encenação, marcado por gestos iguais e figurinos distintos. Atente para essa montagem. Outros tantos dispositivos vêm mesmo do teatro. Como os sapatos de saltos altos para identificar Ismene quando fala. O que mais me seduziu foi a trilha sonora, de Alessandro Persan, Branco Mello, Emerson Villani.

Renata Cazarini



Um serviço que pode ser útil. O filme será exibido na plataforma Itaú Cultural Play no dia 25 de outubro. Foi informado que estará disponível às 19 horas, por 4 horas. Atenção!

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