Antígona [Temporada em SP]
Mito: Antígona
Texto: Sófocles
Tradução: Millor Fernandes
Temporada: 12.05 a 18.06.17
Local: Sesc Consolação / Teatro Anchieta | São Paulo (SP)
Direção: Amir Haddad
Assistido em: 12.02.17 (RJ)
Duração: 60 min
Assistido em: 12.02.17 (RJ)
Duração: 60 min
[A peça entra em cartaz em São Paulo após temporada no Rio de Janeiro. Os comentários abaixo se referem à temporada carioca. Clique aqui para assistir a vídeo sobre a peça, em postagem anterior]
"A recriação da peça clássica de Sófocles, em voo solo da atriz Andrea Beltrão nos seus 40 anos de carreira, pode ser uma “múltipla saga interpretativa” (jornalista Luiz Felipe Reis, em “O Globo”) ou a “primeira grande tragédia stand-up” (ator Tonico Pereira, na mesma reportagem).
Para o diretor Amir Haddad, a atriz é um rapsodo. A peça é um relato performático ou uma performance narrativa que demandou um ano de pesquisas, composição textual e ensaios." (Divulgação)
Bibliografia
“Não conheço peça de direito mais bela: Antígona (a Creonte): – Tua lei não é a lei dos deuses, apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje nem de ontem, mas de todos os tempos.”.
WOLFF, Fausto (orelha do livro). SÓFOCLES. Antígona. Trad. Millôr Fernandes. São Paulo/Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
Comentário
Parece que a peça de Sófocles não se bastava e foi, então, necessário enxertar extensamente a mitologia que envolve a estirpe de Édipo. O impasse entre o direito dos homens, representado pelo edito de Creonte contra o sepultamento de Polinices, e o direito divino, personificado na ousadia de Antígona em cumprir o ritual, perde-se em meio a tanta informação.
A ação performática da atriz mantém satisfatoriamente a unidade dramatúrgica, mas são esporádicas as cenas em que há fruição do texto sofocliano frente à quase ininterrupta movimentação corporal.
Apenas os cacos inseridos pela atriz arrancaram reação imediata do público na sessão a que assisti, por exemplo, qualificar Édipo, que solucionou o enigma da Esfinge, como “o rei das palavras cruzadas”.
Boa encenação é o flagrante de Antígona lançando pó de terra sobre o corpo do irmão: da protagonista ao guarda é um pulo para Andrea Beltrão. Por outro lado, surge excessiva a inclusão superficial de “As bacantes” (Eurípides). Embora tente, a montagem também não se realiza como plataforma do discurso feminino urgente da atualidade. (Renata Cazarini)