Mata teu pai [temporada junho]
Mito: Medeia
Texto: Grace Passô
Temporada: 10.06 a 26.06.17. Sábados, domingos e segundas, às 20h
Local: Galpão Gamboa | Rio de Janeiro (RJ)
Direção: Inez Viana
Elenco: Debora Lamm
Coro: As meninas da Gambôa
Assistido em: 21.01.17 (RJ) e 28.05.17 (SP)
Duração: 45 min
Assistido em: 21.01.17 (RJ) e 28.05.17 (SP)
Duração: 45 min
[A peça volta a entrar em cartaz no Rio de
Janeiro, agora no Galpão Gamboa. "As meninas da Gamboa", grupo
de teatro da terceira idade do Galpão Gamboa, compõe o coro da
peça, ainda que de maneira muito estilizada: ficam sentadas boa parte do tempo
e, em alguns momentos, interagem diretamente com a protagonista. Os comentários
abaixo se referem a outras temporadas, no Rio e em São Paulo. Clique aqui para
assistir a vídeo sobre a peça, em postagem anterior]
O mito de Medeia ganha, na dramaturgia de Grace Passô, ambientação plenamente contemporânea de nossos dias, com explícito discurso feminino, ainda que mantenha a concepção do coro da tragédia antiga – nesta montagem, incorporado por 13 alunas de teatro, da 3ª idade, do Galpão Gamboa (RJ). A peça é a primeira realização de uma trilogia concebida por Inez Viana, que pretende abarcar Medeia também na dança e na ópera. (Divulgação)
Bibliografia
“[O] patriarcado agoniza, mas ainda assim prevalece. A quem recorrer senão a Medeia, vingadora, indomável? Trazida de outros tempos à cena, sua energia é diversa, não se encaixa no discurso lógico, masculino, nem nos limites da quarta parede. (...) Seu poder se faz sentir também na dramaturgia. Dessa vez, a poesia de Grace Passô faz voo livre, ora nas alturas da razão, ora nas profundezas do inconsciente e da libido. Peça-partitura a romper com o patriarcado da forma dramática convencional, "Mata teu pai" é constituída de onze movimentos livres, cada um com atmosfera própria, “staccatos”, ritornelos e didascálias que, em sua maioria, trazem indicações sonoras”.
NICOLETE, Adélia. “Medeia MMXVI”, in: Grace Passô, Mata teu pai. Rio de Janeiro: Cobogó, 2017, p.11.
Comentários
(21 jan | RJ) Tentativa de reescritura do mito, focando na ideia, explicitada no título, de que Jasão é que deve ser morto, mas o desfecho é a morte das filhas: mulheres do coro e da plateia. A princesa filha do rei Creonte é poupada. Medeia não poupou, no entanto, o irmão, que teria agredido brutalmente Jasão e que não a deixava partir. Esta Medeia é judia, vivendo entre mulheres exiladas e outra judia, paulista, repudiada ao longo da peça por seu comportamento chauvinista. A protagonista faz uma performance de suas habilidades interpretativas, de um choro-riso longuíssimo entremeado de falas no início do “solo” até exibir um dos seios para amamentar uma das filhas. O coro poderia ter sido mais demandado. Não fica tão claro o seu papel: consciência de Medeia ou voz do povo local? Ambos? Temas recorrentes: agressão física à mulher, direito ao aborto. Frase símbolo desta reescritura: “Sou do tamanho do amor” – o que faz lembrar "Antígona" (Sófocles). (Renata Cazarini)
(21 jan | RJ) A peça "Mata teu pai" é livremente inspirada na figura de Medeia. A peça é basicamente um monólogo, com alguma interação da atriz com as mulheres que formam o "coro". Na peça, a personagem central, que representa Medeia (e afirma textualmente ser Medeia), expõe suas inquietações para o público, mas como se falasse com seus filhos. Ela se caracteriza com uma mulher que, aparentemente, sofre abusos por parte do pai dos filhos dela. Ela também relata suas interações com as vizinhas: algumas a criticam, outras se ajudam. O texto usa do artifício da repetição para enfatizar que os problemas tratados são repetidos através das eras. Mas temas atuais aparecem, como o tema da migração (as vizinhas são migrantes). O papel do coro na peça pareceu pouco necessário. Sua interação foi pouca e foi muito diferente do papel de um coro grego tradicional. Com exceção desta questão do coro, a peça tem grande qualidade e cumpre adequadamente sua função de divertir e de fazer o público refletir. (Bruno Maroneze)
(28 mai | SP) No último dia da temporada paulista, casa cheia, com o dramaturgo Newton Moreno na plateia. O espetáculo é mesmo compensador: a atriz Débora Lamm preenche o texto exemplar de Grace Passô. Uma dramaturgia de Medeia atualíssima, tratando da mulher expatriada e só, sem exageros. (Renata Cazarini)