“KAY SARA ESTÁ VOLTANDO PARA O BRASIL”
Com esta frase a atriz brasileira ativista dos povos
originários Kay Sara informou que não estará ao vivo na estreia da peça “Antígona
na Amazônia”, neste sábado, 13 de maio de 2023, no teatro NTGent, em Gante, cidade
belga. Trata-se de uma reviravolta, pois Kay estava envolvida diretamente no
projeto liderado pelo encenador suíço Milo Rau desde o início, ainda em 2019. O
nome de Kay vinha sendo divulgado como a primeira atriz indígena a interpretar
Antígona, a personagem mítica que dá nome à tragédia clássica
grega de Sófocles, base para a terceira produção do tríptico dos mitos antigos
de Milo Rau. Sobre o projeto, veja este post.
A causa da desistência da atriz não foi esclarecida por
nenhuma das partes, mas a razão subjacente ao afastamento é associada por Kay a
“situações de preconceito e racismo” e por uma tentativa frustrada de contar a
própria história no espetáculo, conforme o depoimento que deixou num post no Instagram em 10 de maio (fiz apenas cortar-copiar-colar, sem
edição):
Eu já passei por diversas situações de preconceito e racismo,
violência psicológicas, e violências verbais em produções e sempre resolvo nas
próprias produções e com muita conversa conseguimos chegar em um acordo que
seja bom para todos, mas eu cansei de mostra apenas a beleza da luta, da
RESISTÊNCIA QUE EU FAÇO NA ARTE, é uma escolha, eu poderia mesmo ser apenas uma
atriz, como varias outras atriz indígena que seguem suas vidas, mas eu não sei
ser assim, o preconceito existe e estou aqui para dizer que hoje em 2023, as
coisas não podem ser assim.
Não vou baixar a cabeça para a BRANQUITUDE e aceitar por medo
e pressão, se antes de mim, os meus ancestrais tivessem feito isso, eu não
estaria aqui. A luta existe e não é de hoje.
Quando uma pessoa indígena está em uma posição a onde as pessoas não estavam acostumadas a ver, sou vista como alguém, ARROGANTE E PREPOTENTE.
Tenho certeza que muitos dizem que humilho os outros, a BRANQUITUDE SENDO BRANQUITUDE, com o seu ego ferido por uma PESSOA INDÍGENA.
Eu sei da onde vim e quem sou, nunca precisei pisar em
ninguém para está a onde estou, trabalho contra o preconceito, a desigualdade,
e faço a descolonização e conscientização através das palavras, Inclusão,
representatividade, Visibilidade, Diversidade e inclusão dos povos indígenas,
esses são os pilares do meu trabalho.
(...)
Dessa vez, a minha luta é pelo direito de contar a minha própria minha própria história, cosmologia, não tem a haver com egoísmo, há uma razão concreta que faz parte da minha resistência no mundo da arte, e estou colocando em prática, como sempre faço. Poderia ser a história de outra pessoa indígena, e eu lutaria para que a história dessa pessoa fosse contada de maneira correta, a história dos povos indígenas já foi contada de uma maneira errada uma vez e não posso deixar isso acontecer de novo.
O NTGent ainda não emitiu um comunicado sobre toda essa situação. Duas fontes confirmaram a estreia no sábado e a participação de Kay Sara limitada às gravações em vídeo, realizadas no Pará em abril. Outra representação indígena em vídeo é a de Ailton Krenak como o vidente Tirésias, bem como a de sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás (PA) como o Coro.
Lamentável.
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