CLITEMNESTRA – Uma canção de amor (ON-live)
Tema: Oresteia
Textos de base: Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Sêneca,
Marguerite Yourcenar (“Clitemnestra ou o crime”)
Dramaturgia: Juliana Veras
Direção: Juliana Veras
Atuação: Juliana Veras
Realização: Companhia Crisálida de Teatro
Duração: 28 min.
Data da live: 11 dez.20
Assistido em: 11 dez.20
Plataforma: Instagram @ciacrisalida (disponível temporariamente)
Como dar rédeas ao sentimento quando as violências nos levam a uma dor maior do que podemos suportar? O amor, o tempo e a distância preparam o terreno dessa trama, onde um coração trincado pulsa até estilhaçar. Clitemnestra, mulher, esposa e mãe, assassinou brutalmente o marido Agamêmnon com duas machadadas. O ato é revisitado numa visão intimista da personagem, propondo uma reflexão sobre a atitude humana diante das violências que nos colocam em situações-limite. (divulgação)
COMENTÁRIO
O projeto solo, originalmente para o palco, é de 2008. Eu nunca tive a chance de ver. Só agora, de modo virtual. Assim, o comentário fica mais arriscado. Considere isso ao ler.
Sendo também a diretora, a atriz do solo aproveita bem os recursos da plataforma Instagram, entendendo que há uma verticalidade e uma proximidade com a câmera que precisam ser exploradas. Efeitos de imagem não foram explorados. Digamos que é um solo “acústico”, já que há música ao vivo, tanto dos bongôs que Juliana Veras toca, como do samba que ela entoa:
Agamêmnon foi pro mar
e eu fiquei a ver navios.
Quem com ele se encontrar
diga lá em alto mar
que é preciso voltar já
pra cuidar dos nossos filhos.
Ô meu amor, eu cuidei dos nossos filhos.
Ô meu amor, eu cuidei de tantos anos de espera.
Ô meu amor, eu cuidei de um não constante,
eu cuidei de um sim silente,
eu cuidei de uma mentira.
Ô meu amor, eu cuidei dos nossos filhos,
eu cuidei de tantos anos de espera…
A peça é uma canção de amor, como revela o subtítulo, e dá para ver na performance de María Eugenia Pulido (em espanhol) quanto a dramaturgia de Juliana Veras bebe no conto de Marguerite Yourcenar, retratando uma Clitemnestra voltada para o marido idealizado, contudo revoltada com o abandono de uma década e com o passar do tempo que a envelheceu: “Dez anos são alguma coisa”, diz a protagonista.
O espetáculo presencial é construído em torno de cacos de vidro pelo chão, o que também se reproduz sonoramente na versão ON-live (live que fica on-line). Visualmente, é exponenciada a imagem de Clitemnestra que bebe e bebe e bebe vinho.
Essa mulher transtornada por uma dor amorosa insuportável está muito distante da Clitemnestra que eu sempre projetei a partir da leitura de “Agamêmnon”, de Ésquilo e de Sêneca. Não é assim que vejo essa “virago”, mas aceito que nem sempre prevaleça na recepção contemporânea da mitologia antiga a abordagem feminista radical.
AGENDA 2021
Na cena teatral do Ceará, um novo espetáculo da Cia Crisálida previsto para o primeiro semestre de 2021 é “Oniromante”, a partir do fio de Ariadne e o labirinto. Conforme a divulgação, “um cruzar de águas visceral contra a correnteza das violências silenciadas, sobre a necessidade do encontro e a intuição vivida em ato: teatro, música e ritual”. O coletivo também gravou, em 21 de dezembro, “O pequeno labirinto de Fedra”, chamado de “vídeo cênico”. Não estou a par da data de lançamento. É aguardar.
Renata Cazarini
Veja também a colaboração fundamental da professora Luciana Sousa sobre a peça.
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