FESTIM – breve relato de escrita teatral
Karen Sacconi*
“Festim” foi escrito ao longo de 2017 fruto
da minha participação, nesse ano, no núcleo de dramaturgia que nasceu de uma
parceria do SESI com o British Council, há quase dez anos.
Nas
reuniões semanais no Centro Cultural da Fiesp, na Av. Paulista, um grupo de
doze (aspirantes a) dramaturgos – além dos coordenadores Marici Salomão e César
Batista – discutia dramaturgia contemporânea baseado em leituras e exercícios
de escrita.
Desse
processo, nasceram doze textos que, divididos entre quatro diretores de teatro
convidados, compuseram uma série de leituras dramáticas abertas ao público.
Em “Festim” há uma óbvia influência do
teatro grego antigo, evidente já pela escolha das personagens: Tirésias, Helena
e Xântias. Este último, menos conhecido, é inspirado numa personagem cômica – e
não trágica como as outras duas –, um escravo das comédias de Aristófanes.
No
entanto, embora as personagens remetam ao drama antigo, o modelo para a
estrutura do enredo não vem daí, mas do diálogo filosófico, sobretudo do “Banquete”, de Platão.
No nosso
“banquete”, em que se celebra o aniversário de Helena, os três são levados, por
uma espécie de jogo, a trazer à tona suas memórias mais dolorosas. A cada
relato, um mito pessoal e uma pequena catarse.
Paralelamente,
uma entidade bestial e enigmática está à espreita, intrigando e, ao mesmo
tempo, ameaçando os convivas. E se revela à medida em que as personagens expõem
a si mesmas.
Na leitura pública,
ocorrida em outubro desse ano, a direção teatral – a cargo de Lubi Marques –
sublinhou a relação entre as narrativas dessas personagens e o Brasil
contemporâneo.
Por meio
de um dispositivo cênico, a tatuagem na testa de Xântias, por exemplo, nos
remete inequivocamente a um fato recente do nosso noticiário local. A leitura
foi correta.
Em “Festim”, os mitos dizem respeito a
nós, às violências modernas, a nossa pequena catarse diária.