AALIYAH (After Antigone)


Argumento: Antígona, de Sófocles

Dramaturgia: Kamal Kaan

Direção: Alex Chisholm e Dermot Daly

Elenco: Halema Hussain (Aaliyah/Antígone), Lydia Hasoon (Imani/Ismene), Jag Sanghera (Hussain/Hemon), Siddiqua Akhtar (Parveen Parvaiz/Creonte)

Cenografia/Figurino: Miriam Nabarro

Desenho de som: Ed Clarke

Realização: Freedom Studios & CARBON Imagineering

Duração: 80 min.

Temporada: 8 a 16.out 2021

Presencial (Bradford, Inglaterra) e online

Visto em 08.out 2021

Reservas aqui


Em um escritório em um ponto qualquer de Bradford, Aaliyah e Imani tentam continuar com seu trabalho como faxineiras enquanto aguardam ansiosamente notícias sobre seu irmão, Syeed, sob ameaça de ser deportado para Bangladesh. Quando a ministra do Interior, Parveen Parvaiz, divulga a notícia que elas tanto temiam, Aaliyah sente a necessidade de se posicionar contra o poder do Estado, mas seu ativismo político põe sua própria vida em risco. (divulgação)


In an office somewhere in Bradford, Aaliyah and Imani are trying to get on with their cleaning job while anxiously waiting for news of their brother, Syeed, threatened with deportation to Bangladesh. When Home Secretary, Parveen Parvaiz, announces the news they dread, Aaliyah must rise up and face the might of the State but her political activism puts her own life in danger.


Comentário

Esta versão moderna do mito de Antígona, situada agora na cidade de Bradford, região norte da Inglaterra, põe no centro do debate a questão identidade & cidadania. O jovem autor, Kamaal Kaan, afirma que tomou como matéria também a própria família e a constante ameaça aos direitos de cidadania do povo de Bangladesh estabelecido no Reino Unido. Leia uma breve entrevista aqui (em inglês).


A peça foi encomendada antes da pandemia de covid-19, com a perspectiva de ser realizada parte presencialmente, parte online. A ministra do Interior aparece no telão e o celular é usado com frequência como ferramenta de mobilização social.



O jornal inglês The Guardian publicou no início do mês reportagem sobre três montagens de Antígone ocorrendo em outubro de 2021 na Inglaterra. Se quiser, leia aqui. 


Definitivamente, essa é “a peça” identificada com tudo o que hoje parece ser “politicamente urgente” – e é assim mesmo que, de fato, se apresenta uma das três montagens listadas no jornal. No artigo, o crítico de teatro Michael Billington conclui a sua defesa das múltiplas Antígones dizendo que “cada era tem sua própria interpretação e adapta essa majestosa peça multidimensional ao temperamento do seu tempo”. Eu diria “temperamentos”.


Em Colchester, leste da Inglaterra, está em cartaz – apenas presencial – uma Antígone na versão da jovem premiada dramaturga australiana Merlynn Tong, texto que estreou em 2019 na Austrália. Aqui você pode ver o programa daquela ocasião e aqui o desta temporada. Não tenho acesso ao texto integral, mas consegui localizar um excerto que revela Ismene num lamento pelo irmão Etéocles na cena 1, seguida da fala de Creonte contextualizando o argumento na cena 2, só então surge o diálogo entre Antígona e Ismene, a cena 3. Creonte é tia, não tio, a nova rainha de Tebas. O excerto referido pode ser lido aqui. E já saiu uma crítica teatral no The Guardian: três de cinco estrelas.



Em Bradford, o grupo Freedom Studios volta-se para a formação e inclusão de jovens no mundo do teatro, bem como se dedica à encenação em espaços “teatrais” não convencionais. Isso acontece na montagem dessa Antígone de nome árabe Aaliyah, levada presencialmente num espaço de escritórios terceirizados (co-working). A trupe tem como protagonista a jovem atriz Halema Hussain. 


ATENÇÃO! A quem não gosta de spoiler, sugiro pular este trecho.


Tem algo de interessante em pensar nesta Aaliyah, que sobrevive ao irmão Syeed (fala-se Said), isto é, Polinices, à irma Imani, isto é, Ismene, que sobrevive a Hussain, isto é, Hemon. Interessa pensar por que o autor britânico de hoje resolve dar a essa Antígone uma vida sexual ativa, ela, casada com Hussain, torna-se mãe de uma bebezinha chamada... Antígone! Essa mulher fecunda é também “the woman behind the mask”, a mobilizadora de forças da comunidade em oposição ao Estado autoritário representado pela sogra, a ministra do Interior (Home secretary) Parveen Parvaiz.



A encenação presencial pode ser acompanhada ao vivo pelo celular, tablet ou computador. E pode ser gratuita. Basta fazer o cadastro e pedir o ingresso para a transmissão online. Será encaminhado um e-mail com orientações para baixar um app. São usadas cinco câmeras. No final da apresentação, ouvem-se aplausos. Os atuantes voltam-se para uma das câmaras e agradecem à plateia virtual, conforme o print abaixo.



Interessa ver pela oportunidade da transmissão on-live.

Renata Cazarini


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