Teatro clássico: “MEIO PEÇA, MEIO MANTRA” (Daniela Thomas)



“Mãe Coragem e seus filhos” (1941), de Bertolt Brecht (1898-1956), é um clássico na acepção plena da palavra. Só não é um clássico da Antiguidade. Uma nova montagem, com a atriz Bete Coelho no papel principal, sob a direção de Daniela Thomas, encerrou temporada (11.jun.19-21.jul.19), no espaço desportivo do Sesc Pompeia, em São Paulo. 
A peça de duas horas e meia de duração, sem intervalo, com música ao vivo, teve tradução de Marcos Renaux. Um livreto distribuído para o público traz muitos depoimentos sobre a encenação. Comentários de Daniela Thomas sobre a experiência de montar uma peça clássica são pertinentes também para refletir sobre o teatro da Antiguidade, por isso, fica aqui o registro:

Encenar o clássico nessa distância temporal, espacial e cultural é necessariamente desrespeitá-lo. A todo momento me senti tanto oprimida quanto excitada pelo embate com o texto e a encenação original (fixada em filme e num storyboard com centenas de fotografias de cada momento da encenação). Brecht era muito cioso de sua direção e queria fixá-la para os que viessem depois dele. Montar Mãe Coragem é lidar não só com as implicações de encenar um texto clássico, mas também embater-se com uma montagem referência do próprio autor. Tive que recorrer muitas vezes à citação de Heiner Müller com que o Marcos Renaux me presenteou logo no começo dos trabalhos: ”Encenar Brecht sem criticá-lo é uma traição”.
(...)
Montar um clássico é sempre um rito de passagem. São umas poucas dezenas de peças que seguem sendo encenadas, e algumas há séculos. Elas resistem, meio peças, meio mantras, tocando nas velhas feridas. Cada nova geração, cada novo lugar vai ouvir aquelas palavras. É um privilégio e um desafio incrível, né?

O espetáculo foi indicado em três categorias do Prêmio Shell São Paulo da programação do primeiro semestre: Direção (Daniela Thomas), Atriz (Bete Coelho) e Música (Felipe Antunes).
Merece leitura a análise do professor da ECA/USP Ferdinando Martins.