APÁTRIDAS (online)
Tema: Cassandra, Hécuba, Prometeu, Hércules
Dramaturgia: Carina Casuscelli
Direção: Lenerson Polonini
Elenco: Carina Casuscelli, Jacqueline Durans, Isidro Sanene, Miguel Kalahary.
Figurino: Carina Casuscelli
Assistente de figurino: Gustavo Werner
Iluminação e concepção espacial: Lenerson Polonini
Trilha sonora: Wilson Sukorski
Vídeos: Armando Lima
Operação de som: Felipe Moraes
Operação de luz: Verônica Castro
Operação de imagem: Téo Ponciano
Participações especiais em vídeo: Kaiti Kna Aguiar, Wiryça Kariri Xocó.
Colaboração dramatúrgica (parte 1): Eduardo Brito
Produção: Lenerson Polonini, Carina Casuscelli (Companhia Nova de Teatro)
Gravação: Forasteiro Produções
Temporada presencial: 05-28.11.2021 (Teatro Arthur Azevedo – SP/SP)
Temporada online: 18-23.12.2021
Acesse o canal da Cia. Nova de Teatro no YouTube aqui.
Duração: 65 min.
Assistido em 19.12.2021
Sinopse
Inspirada em personagens como Kassandra, Hécuba, Prometeu e Hércules, a peça tem como enfoque as crises humanas, os fluxos migratórios, a devastação do território dos povos originários e a africanidade. Estruturada em solos que se interconectam, os personagens tencionam questões sobre identidade e não pertencimento. (Divulgação)
COMENTÁRIO
Este trabalho da Companhia Nova de Teatro, celebrando seus 20 anos, toma como mote quatro figuras mitológicas, entrelaçadas em dois pares, para abordar emergências de hoje. Assim, Cassandra e Hécuba, nesta sequência, abrem o espetáculo, que teve temporada presencial recentemente, com dois monólogos apresentados em performance solo. Depois vêm Prometeu e Hércules, dois atores de origem angolana. Cassandra, a vate desacreditada, é filha de Hécuba, rainha de Troia. Prometeu, condenado por Zeus, é resgatado por Hércules, herói dos 12 trabalhos.
Cassandra-Jurema, papel de Carina Casuscelli, também dramaturga, fala em defesa da floresta, mas prevê o risco da destruição ambiental. O monólogo de Hécuba, interpretada por Jacqueline Durans, foca nas guerras e associa Troia a Alepo, cidade antiquíssima da Síria vitimada por longa batalha no século XXI: “Não mais Troia, não mais Alepo, não mais Amazônia”. Para mim, é o texto mais sedutor:
“Passei a vida acumulando coisas e atribuindo poder a elas. Agora percebo que pouco poder tenho sobre os limites de quem eu sou. É isso que se chama loucura? Um lugar abandonado e destruído da memória do eu? Eu, a desvalida, era senhora para o mundo, importante entre as pessoas, semelhante a deuses e orixás, exceto pela morte. Agora eu sou escrava e isto me faz querer morrer. Quem me defende? Que família? Que país?”
Também o discurso de Hércules, desempenhado por Miguel Kalahary, que faz o herói enfurecido, instaura relações entre as práticas religiosas da Antiguidade e a tradição da cultura afro, numa performance estimulante:
“Para nós, os africanos, a morte não é o fim. É apenas um contacto do espírito com os nossos ancestrais. Eu, cruzando o território durante anos, a madrugada afora ocupando as primeiras fileiras em fábricas. Eu, experimentando a fome por anos. O morto não tem mais poder nesta terra. A morte tem mais poder nesta terra”.
A gravação do audiovisual foi realizada durante a temporada presencial em São Paulo. A iluminação para a tela do computador à vezes dificulta a visualização, mas há um interessante jogo de cores, valorizando o figurino, que é de interesse, com uma trilha sonora sedutora com os efeitos do movimento das águas e do voo de helicópteros.
Lamento não ter visto presencialmente essa conclusão do projeto “Apátridas”. Quando vi, ainda em processo, antes da pandemia, em março de 2020, durante a Mostra Internacional de Teatro (MitSP), Hécuba era feita por Rosa Freitas (veja aqui), falecida em outubro deste ano.
Renata Cazarini
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