Peças em cartaz no FarOFFa - comentários
FarOFFa, circuito de artes cênicas paralelo à Mostra Internacional de Teatro de São Paulo 2020 (MITsp) e à plataforma brasileira da mostra (MITbr), continua acontecendo, apesar dos temores com o vírus que alarma o mundo.
Deu pra ver “Apátridas”, no dia 10 de março, e “Sísifos”, no dia 12. São montagens que ocupam espaços alternativos do roteiro de teatros da capital paulista, atraindo menos público. Faz sentido no caso desses dois espetáculos, que têm traços de dramaturgia ainda em desenvolvimento.
APÁTRIDAS
Comentário
De fato, “Apátridas”, que põe em sequência um monólogo de Cassandra, a vate troiana desacreditada, e um monólogo de Hécuba, a rainha troiana tornada espólio de guerra, mãe de Cassandra, é um trabalho ainda em processo, segundo o diretor e fundador da Cia. Nova de Teatro, Lenerson Polonini. As apresentações foram no Centro Cultural Olido. As atrizes Carina Casuscelli e Rosa Freitas desempenharam, respectivamente, Cassandra e Hécuba.
A primeira explora mais o espaço cênico, a segunda domina a elocução. Mas os textos, evocando elementos da mitologia grega, buscam tratar de temas atuais, em particular, o dos povos originários. As projeções audiovisuais são dispensáveis porque não resolvem os textos, que se arrastam. O palco é escuro, operando quebras com luz vermelha (ver foto abaixo) e fumaça cenográfica. Veja o teaser.
Rosa Freitas como Hécuba
SÍSIFOS
Já “Sísifos” coloca em diálogo dois atores representando Tralha (Gustavo Bartolozzi) e Troco (Antônio Rodrigues), como se fosse “Esperando Godot”, de Samuel Beckett: presos numa caverna, fazem um trabalho repetitivo de carregar pedras, sempre na expectativa dos Outros, os que se rebelam contra o regime autoritário dessa terra chamada Aliena, onde um livro normatizador cita Jean-Paul Sartre (“O inferno são os outros”) e a frase “Bandido bom é bandido morto”. Direção de Cláudia Henrique. Texto de Guilherme Theo e Gustavo Bartolozzi. Encenado no Galpão do Folias.
Sinopse
O Teatro do Absurdo ganha forma em “Sísifos”, da Cia. Candongas. A obra encontra ponto de intersecção no “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus, no “Mito da Caverna”, de Platão e no “1984”, de George Orwell. Em Aliena, reino totalitário, Tralha e Troco carregam pedras e refletem sobre a vida em sociedade. Desde sua fundação, em 1994, a Companhia Candongas dedica-se a estudar o teatro em suas múltiplas formas e manifestações. (Divulgação)
Comentário
Há um interessante jogo com luz negra nessa montagem (veja fotos abaixo). Quando ela está ligada, o cenário é o da intimidade e fantasia, com cores luminosas: muito laranja e roxo. Quando desativada, o cenário é o do trabalho incessante e da opressão do Grande Irmão.
O texto político, bem intencionado, traz clichês demais. Feliz momento é o da simulação de um jantar sofisticado, à francesa, feito de algum entulho disponível, já que a pedra de que se fazia sopa foi dispensada. Eu ri. E isso é incomum pra mim.
Renata Cazarini