ANTÍGONA RECORTADA - Cantos que cantam sobre pousospássaros

Mito: Antígona (mote)
Realização: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Dramaturgia e direção: Claudia Schapira
Concepção geral: Claudia Schapira, Luaa Gabanini, Roberta Estrela D’Alva e Eugênio Lima
Atrizes-MCs: Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva
Direção musical e DJ: Eugênio Lima
Duração: 60 min
Temporada: 15 a 18.11.18
Local: Sesc Pompeia, São Paulo (Espaço Cênico)

Assistido em: 16.11.18

NOTA BENE: 

Em nova e curtíssima temporada, é parte da programação do seminário “Nós tantas outras”, no Sesc Pompeia, em São Paulo. A peça foi desenvolvida em 2011 como uma lenda urbana baseada no mito de Antígona, a princesa filha de Édipo que queria enterrar o irmão Polinices contra determinação do rei de Tebas. “Antígona Recortada” é um poema escrito a convite do projeto Conexões, uma parceria da Cultura Inglesa São Paulo, British Council Brasil, Colégio São Luís, National Theatre de Londres e Escola Superior de Artes Célia Helena.

“Com a tragédia ‘Antígona’ como mote, o espetáculo narra a trajetória de jovens meninas em alguma periferia do mundo que, diante do extermínio dos irmãos envolvidos com o tráfico de drogas, decidem, em ação de desacato, procurar os corpos desaparecidos, que são escondidos para não servirem de corpo de delito. O tema da desobediência civil é despertado mediante a ação dessas jovens que reivindicam o direito de enterrar seus mortos, como na tragédia original, evocando ainda a criação de um outro mundo possível, discutindo o valor da vida/direito natural e a necessidade urgente de criar um novo imaginário”. (divulgação)

“A terra é o corpo, e esse corpo tem direito a pouso vivo e morto”, explica Claudia Schapira. “A metáfora dos pássaros reforça o viés poético da narrativa que conta ainda com ideal humano de liberdade como grande pano de fundo”, completa. Artigo no Jornal de Teatro.

Ainda que ver a peça ao vivo faça toda a diferença, uma gravação de 2013 está disponível aqui.

Comentário

O poema cênico desse duo de Antígonas MCs – Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva – faz a gente entender como pode ser atual o embate pelo direito de enterrar seus mortos, ainda mais quando injustas suas mortes. Dança e canto atualizam o questionamento sobre a terra/pátria que não recebe seus filhos, como diz a poesia de Claudia Schapira:

já nao é terra
a terra que não enterra
em suas entranhas seus mortos
já não é pouso
o canto que não acalanta
em seus recantos
os corpos
já não é colo
o braço que não enlaça
mas ceifador dilacera
o outro

A palavra é fundamental neste espetáculo. A récita poética, tipo “spoken word”, traz à tona a estética hip-hop, com rimas e tal. Nessa linha, veja nosso post sobre Homero hip-hop.

O DJ Eugênio Lima é o diretor musical, executando a trilha ao vivo.
A peça é praticamente um espetáculo operístico, no sentido mesmo da grandiosidade da performance combinando palavra e música. 
(Renata cazarini)