FEDRA de Racine
Mito: Fedra
Texto: Jean Racine
Tradução e adaptação: Roberto Alvim
Temporada: 04 a 27.05.18
Local: Sesc Pompeia | São Paulo (SP)
Direção: Roberto Alvim
Elenco: Juliana Galdino, Caio D’Aguilar, Luis Fernando Pasquarelli, Christian Malheiros, Nathalia Manocchio, Luiz Otávio Vizzon e Victoria Reis
Realização: Club Noir e Cubo Produções
Idade: 16 anos
Duração: 60 min.
Assistido em: 05.05.18
Fotos do espetáculo: Edson Kumasaka
Comentário
Não é pouco o que distancia da peça de Jean Racine esta montagem feita pelo Club Noir, ainda que o diretor Roberto Alvim louve o texto francês em seu comentário publicado no material de divulgação:
“O texto de Racine, escrito na França, em 1677, é encenado continuamente por alguns dos maiores diretores contemporâneos. A grande montagem brasileira foi dirigida por Augusto Boal e protagonizada por Fernanda Montenegro em 1986. Trata-se de uma obra imortal do repertório clássico. Encená-la nos coloca em contato com a beleza poética e os abismos emocionais de um texto que vem proporcionando, ao longo da história do teatro, um mergulho vertiginoso nos labirintos da condição humana”.
Sobre a encenação de Boal com tradução de Millôr Fernandes, veja aqui o texto da profa. Zelia de Almeida Cardoso (a quem agradeço a colaboração inestimável).
A distância não me parece problema. São muitas as leituras novas dos textos clássicos (gregos, latinos, shakespearianos) que tomam os palcos em favor de uma aproximação com a plateia. Contudo, esta montagem parece enxugar demais a trama um tanto mais complexa da peça de Racine, que introduz um elemento de disputa política para além da erótica de Eurípides e Sêneca.
A presença de Arícia, bem justificada no texto francês, tem um propósito bastante duvidoso na leitura atual, esvaziando sua força: onde está a força dessa personagem feminina sendo que esse é um dos vetores desta montagem? O conflito de Fedra, decorrente do amor por seu enteado, proibido porque incestuoso para os padrões clássicos, tem tamanha dimensão que apaga a disputa pelo trono de Atenas.
Há uma tentativa de inserir o elemento mítico com a figura do Minotauro, que tem bom impacto visual, mas talvez enigmático demais. Seria o touro marinho que extermina Hipólito ou, como diz Alvim, “um mergulho vertiginoso nos labirintos da condição humana”?
Cuidado, spoiler!
Insurreição feminina é mesmo a da ama Enone, papel desempenhado pelo ator Caio D’Aguilar (fotos acima), que constrói a personagem na sua forte expressão corporal, extrapolando o texto. Enone executa uma vingança – traço novo na versão do mito de Fedra e Hipólito.
Nesta montagem, é Fedra (tal como em Sêneca) quem revela a Teseu sua paixão pelo enteado. E o ato de amor se consumou, confirmado ao pai por Hipólito. Mortos Fedra e Hipólito, o rei não fica só: se apodera da Arícia.
Versão de Millôr Fernandes disponível para download aqui.
Veja crítica da Folha de S.Paulo.