LABIRINTO: TEXTO SAI EM LIVRO
O
texto da peça “Labirinto”, de Alexandre Costa e Patrick Pessoa, professores de
Filosofia na Universidade Federal Fluminense (UFF), saiu em livro pela Giostri
Editora em 2017.
Para
além do registro dramatúrgico, os autores documentam a montagem, que estreou em
2015, e relatam a experiência do trabalho teatral coletivo. Veja nosso post
sobre a peça. Duas
críticas de teor acadêmico integram a publicação.
A
Giostri, de São Paulo, e a Cobogó, do Rio, estão entre as editoras que têm
apostado na publicação de dramaturgia brasileira, incluindo nomes como Grace Passô (“Mata teu pai”) e Pedro Kosovski. Costa e Pessoa já haviam publicado em
2013 pela Giostri sua versão da “Oréstia”, montada em 2012.
“A
peça Labirinto é um... labirinto. Labirinto de palavras. Por mais que a
imagem-clichê do labirinto nos leve a pensar e uma construção muito extensa,
com corredores intermináveis e caminhos que se bifurcam, cuja saída não se pode
encontrar porque o tempo de uma vida seria curto demais para isso, é possível
imaginar um labirinto cuja saída não se pode encontrar porque ele é exíguo
demais, concentrado demais, denso, sintético. O labirinto de que trata a peça
Labirinto é desse segundo tipo”. (Prefácio, por Patrick Pessoa, p.8).
Nesta
versão do mito do Minotauro, retrabalhada para dar voz aos jovens sujeitos ao
sacrifício, também o monstro mítico fala e o desfecho – se é que há um – é
inusitado. Pessoa não se furta a admitir que é uma “peça de filósofo” (p.9):
“Para quem precisa de rótulos, sim, isso é peça de filósofo. Não apenas porque
os autores são professores de filosofia, mas porque os atravessamentos que
culminaram no texto da peça vêm muito de uma lista grande de poetas e
pensadores que nos atravessaram, entraram sem bater e se instalaram nos nossos
diálogos”.
Na
minha leitura de Labirinto entra Jean-Paul Sartre e a sua peça “Entre quatro
paredes” (Huis Clos, 1944), que me atravessou e atravessa ainda, afinal, “o
inferno são os outros!”. Leia, na tradução de Guilherme de Almeida.
A
lista de Pessoa e Costa passa por Julio Cortázar e Jorge Luis Borges, por
Albert Camus e André Gide, para uma leitura contemporânea do mito do labirinto.
Costa se propõe a traçar um histórico do trabalho de criação coletiva que
definiu a dramaturgia e a forma final da peça, como se uma “crítica genética do
texto” (p.49).
“Do
caudal de vozes que o compõe, o antigo, o medieval, o moderno, o contemporâneo,
o pós-moderno – todos esses períodos espelham e deixam-se atingir pelo mito, ao
mesmo tempo que também se projetam sobre ele, concorrendo para a construção das
múltiplas faces que o mito assumiu historicamente. Diante dessa complexa
realidade, nosso estudo desdobrou-se em etapas mutuamente necessárias, que
guiaram nossa pesquisa e reflexão: (a) caracterização da narrativa mítica e de
sua historicidade; (b) análise e crítica das versões de origem; (c)
reconhecimento da consolidação de uma versão tradicional do mito, cuja
alteridade ao longo de séculos é pouco perceptível; e (d) análise e crítica das
versões contemporâneas, bem como o reconhecimento de suas intenções disruptivas
em relação ao mito tradicional”. (Costa, p.52)
A
documentação de montagens e publicação de textos dramatúrgicos, encenados ou
não, é crucial para que se possa dar prosseguimento aos estudos da recepção de
clássicos no Brasil. Assim, é louvável a edição de Labirinto.