Estreia em 2018: MEDEA MINA JEJE
Mito: Medeia
Dramaturgia: Rudinei Borges
Temporada: 26.01 a 18.02.18
Sextas,
21h30; sábados, 19h30; domingos, 18h30.
Direção: Juliana Monteiro
Atuação: Kenan Bernardes
Classificação: 16 anos
Duração: 40 minutos
Argumento: Ao saber que seu filho
Age seria perseguido, mutilado e novamente aprisionado à boca de uma mina, a
escrava Medea decide por
sacrificá-lo, numa tentativa de libertá-lo da própria sina.
NOTA
BENE
Ensaios abertos foram realizados em 26, 27 e 28 de setembro de 2017, no Galpão do
Folias, em São Paulo.
Medea
Mina Jeje é o poema-pranto de uma mulher negra, escravizada na Vila Rica de
Nossa Senhora de Pilar de Ouro Preto, nas Minas Gerais do século XVIII. O
suplício materno que se desvela na peça configura espécie de canto, uma oração
que narra, em vozeio, o sacrifício do menino Age no trabalho penoso e aterrador
das minas de ouro que moveram a economia do Brasil durante séculos, mesmo a
desmantelar vidas inteiras num genocídio silencioso que marca, com ferro e
fogo, a história do país a partir do signo da violência.
A
tessitura dramatúrgica inédita desta obra cênica constitui-se a partir da
fricção entre a narrativa polissêmica da Medea negra da Mina Jeje e a leitura
da tragédia de Eurípides, datada de 431 a.C.
Neste
sentido, também adentra-se similaridades, sobretudo no que diz respeito à
sabedoria da Medeia grega que, como afirma Trajano Vieira, está em não se
colocar como joguete de uma força que escapa a seu controle e que conduz seus
atos, mas em vislumbrar no próprio movimento da construção de seu intelecto e
motivação emocional que se lhe entrelaça e provoca sua dor mais intensa.
Foto: Julieta Bachin
Trata-se
da lucidez agônica que particulariza o teatro de Eurípedes. O thymós pouco tem
a ver, portanto, com a personificação de um demônio (“ein Dämon”) externo, que
agiria na protagonista.
Medeia
não só sabe o que faz, como tem consciência do que a leva a fazer o que faz.
Essa percepção dos mecanismos psíquicos num momento extremos é o que a torna
tão arrebatadora.
A
voz que se deglutia em Medea Mina Jeje é a voz de quem grita, em sussurro,
sendo portadora duma confiança sui
generis e percepção, mesmo intuitiva, da condição de opressão em que vive
e, por isso mesmo, também portadora de uma busca incomensurável pela liberdade,
ainda que a saída para chegar a isso seja o alento do sacrifício do filho, para
que ele não embrenhe toda a vida na mesma sina de escravidão da mãe.
A
liberdade, destarte, surge como imagem metafórica de um mar revolto – aquele
mesmo mar que, à força, trouxe Medea da África distante para o campo rupestre
dos cativeiros das minas, a levará de volta (ou o filho) a um reino, onde é possível
brincar nos córregos.
Medea
Mina Jeje busca, portanto, mover para a candura da cantiga do luto maternal o
ardor profundo, como um mar revoltado, da resistência das negras e negros que,
em muitos casos, resultaram na criação de quilombos que, mesmo distantes da
África-mãe, compunham paragens de libertação e inauguração de uma vida comunal,
às avessas da opressão dos arraiais, engenhos, plantações, casas grandes e
minas do Brasil afora.
E,
ao mesmo tempo, adentra as mazelas e contradições do Brasil contemporâneo
imerso numa disparada de dissimulação e enlace conservador. (Divulgação)
Leia aqui sobre
a Mina Jeje, em Ouro Preto (MG).