ORESTEIA.BR
Textos: Ésquilo, Eurípides, Pier Paolo Pasolini
Concepção: Turma 71 da EAD/USP
Dramaturgia: José Fernando Peixoto de Azevedo
Adereços/objetos de cena: Paulo Basílio
Consultoria técnica: Beatriz de Paoli, JAA Torrano, Milena Faria, Sandra Sproesser
Sinopse
Em cena, a saga dos Atridas, desde o sacrifício de Ifigênia, pelo
pai, o rei Agamêmnon, como condição para a partida das frotas até a destruição
de Troia e o resgate de Helena, sequestrada por Páris. Dez anos depois, em seu
retorno, Agamêmnon é assassinado pela rainha Clitemnestra e seu amante Egisto,
como vingança pela morte da filha. Tempos depois, o filho, Orestes, com a ajuda
da irmã, Electra, vinga a morte do pai, assassinando a mãe, o que o leva a um
julgamento no contexto de um novo tribunal, instaurado pela deusa Atena. (divulgação)
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Ifigênia @c.oviedoph |
Orestes
@c.oviedoph Então: a @prezadaciadeteatro é um coletivo formado na EAD em 2022, durante o processo de montagem de Oresteia.br. Esse tipo de ação é frutífero no Brasil. Entre 1997 e 2016, @josefernandopeixotodeazevedo foi diretor e dramaturgo, além de ter sido fundador, do Teatro de Narradores, surgido na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). A experiência social brasileira e sua posição no mundo, a
partir de uma visada dialética que inscreva a prática artística nos processos
de configuração de tal experiência, definem, em parte, sua (de José Fernando) perspectiva
de trabalho, fazendo imbricar teatro e cinema na materialidade da cena,
voltando sempre a uma aliança com Bertolt Brecht e Glauber Rocha, referências
decisivas. Mas foi no encontro com a obra de Pier Paolo Pasolini, do qual resultaram
dois trabalhos – Pílades (2010) e Estamos todos em perigo (2016),
este último também como performer –, que uma inflexão se deu em seu
programa de trabalho, refletindo sobre outras formas de interrogar sobre o
processo de modernização conservadora no Brasil. Essa descrição consta do site da rede de produtores Corpo Rastreado, criada em 2005. Em linha com as ideias acima, surgem as
perguntas abaixo: ORESTEIA.BR nasce da tentativa de
elaborar algumas perguntas, em meio a tanta perplexidade a nos tomar. O
que ainda podemos fazer juntos? Quem integra o coro? Qual o valor de uso
da mentira? Como pronunciar palavras propícias? Ao texto de Ésquilo
somamos trechos de Eurípides (Ifigênia em Áulis) e de Pasolini (Pílades),
compondo um material que nos permite cravar na encruzilhada-Brasil nossos
corpos em estado de combate. (divulgação) Cena
de Oresteia.br @c.oviedoph A atriz e encenadora Milena Faria,
com formação acadêmica em Letras Clássicas na USP, foi uma das consultoras do
projeto. Ela fez um breve relato a pedido do blog: A convite de Sandra Sproesser e do diretor José Fernando Peixoto de
Azevedo, conversei com a turma 71 da EAD sobre a recepção das tragédias de
Eurípides e Ésquilo, sob a óptica de Aristófanes n’ As Rãs. Para isso,
primeiro contextualizei o aspecto político dos festivais de teatro e a
peculiaridade de uma plateia com grande competência para analisar as obras e
compará-las entre si, mesmo que houvesse uma distância cronológica grande entre
elas. A partir dessa contextualização, pudemos discutir como, n’As Rãs,
a partir do ponto de vista cômico, conseguimos, mesmo que de modo hiperbólico,
extrair algumas características das tragédias de Ésquilo e Eurípides, quais
sejam, o modo da performance, a linguagem elevada e até mesmo enigmática
de Ésquilo em contraposição a uma linguagem mais cotidiana de Eurípides. Para
além da forma, os valores defendido por cada tragediógrafo também foram
contrastados, Ésquilo, defendendo a tradição, o valor bélico, a solenidade e a
piedade, no respeito aos deuses. Eurípides, por sua vez, questionando a
tradição, a crença aos deuses, revelando as mazelas da guerra e utilizando em
suas tragédias personagens que não pertenciam à aristocracia. A partir dessa comparação mais genérica, pudemos então analisar
passagens da peça, tendo sempre em vista como se deu a recepção de Aristófanes
e seus contemporâneos a Ésquilo. O contexto político d’As Rãs também foi
analisado, de modo a que se pudesse entender a escolha feita por Dioniso pelo
retorno de Ésquilo para salvar Atenas. A partir dessas informações, então, os alunos fizeram perguntas e
tiveram um ponto de vista diferente sobre o trabalho de Ésquilo. |
Passada a pandemia da covid-19, sua
marca fica, além das quase 700 mil mortes no país, fica, eu dizia, no cartaz da
peça montada no ano passado em que ainda se exigia o uso de máscara sanitária e
comprovante de vacinação. Para esta temporada, a assustadora imagem de fundo
foi mantida.
Agora, em 2023, voltamos à tragédia e, certamente, é com os olhos do presente que lançamos nossas perguntas ao material. Isto, num momento em que as práticas de extermínio confrontam as perspectivas democráticas. Na contramão da visão trágica grega, a “nossa tragédia” evidencia: o sofrimento nada ensina. (divulgação)
O diretor José Fernando Peixoto de
Azevedo: "Resta-nos um pouco de uma certa consciência trágica: reconhecer
a distância que separa aquilo que imaginamos ser daquilo que nos tornamos, e
escolher seguir. Alguns ainda dão, a essa fratura, o nome de Brasil."
Depois da Oresteia.br, entrará em
cartaz no TUSP outra peça que retoma a mitologia antiga, integrando a Mostra
Teatro Pós-trauma, três peças que abordam criticamente a crise da democracia no
Brasil.
Sinopse
Partindo da construção ficcional de um memorial para Antígona, o espetáculo discute a questão da pactuação nacional que se deu no Brasil na transição entre a ditadura militar e o período democrático. Em cena, sete atores manipulam documentos sobre a criação da Lei da Anistia de 1979, ao mesmo tempo em que, através de depoimentos das personagens gregas, contam o mito da Antígona, fazendo com que o mito grego ecoe na história nacional. (divulgação)
Em 2020, o novo processo do grupo, Um memorial para Antígona, teve sua estreia adiada em virtude da pandemia. Desse processo interrompido, nasceu Antígona Sonora, uma produção online sobre a qual escrevi aqui. Em 13 de setembro de 2022, o Itaú Cultural recebeu em São Paulo a peça ainda em processo, que estreia no TUSP.
A proposta do espetáculo presencial é examinar em detalhes as atas do Congresso brasileiro relativas à lei de anistia, que conciliou o retorno dos exilados com o perdão aos torturadores: “Os discursos dos deputados e senadores dos dois partidos operantes à época, Arena e MDB, são pontuados pelas falas das duas filhas de Édipo, Antígona e Ismene, divididas entre submeter-se ou não ao tio e tirano de Tebas, Creonte, que decidiu impedir o sepultamento do sobrinho Polinices. O debate de Antígona com a irmã imanta as contradições e consequências funestas do apagamento dos crimes da ditadura”. (divulgação)
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