DILÚVIO


Mito: Prometeu e Deucalião
Autor e diretor: Gerald Thomas
Temporada: 11.11 a 17.12.17
Local: Sesc Consolação | São Paulo (SP)
Coreografia aérea e direção: Lisa Giobbi
Performance aérea: Lisa Giobbi, Julia Wilkins
Elenco: Maria de Lima, Ana Gabi, Beatrice Sayd, Isabella Lemos
Visto em: 03.12.17


Comentário

A peça “Dilúvio”, de Gerald Thomas, trata, segundo o dramaturgo e encenador, do “dilúvio de informações” da sociedade atual, em que ele vê uma “potência de calamidade”, conforme afirmou em entrevista em vídeo à revista Veja.

Entre as várias citações musicais e referências literárias da peça, em tom cômico ou não, não há associação direta com o mito de Prometeu, mas creio que haja alusões a ele, ainda que – talvez – sem plena consciência do autor.

Os fragmentos que compõem a peça podem ser entretecidos, se isso facilitar ao espectador a intelecção para além da fruição realmente prazerosa do espetáculo, numa releitura do mito de Prometeu e Deucalião, o filho a quem o titã alertou sobre a decisão de Zeus de pôr fim à humanidade com o dilúvio, do qual se salvaram apenas ele e a mulher Pirra numa arca, como aparece no livro 1 das “Metamorfoses”, de Ovídio. 

A imagem de duas pessoas penduradas, apoiadas como que em colunas greco-romanas semienterradas, sobre as quais escorre “sangue”, e a passagem de um corvo empalhado agigantado sobre o palco evocam o próprio Prometeu e a ave que consumia diariamente suas entranhas, que se recompunham para ser devoradas. Essa imagem do confinamento só vem reforçar o comentário de outro post. 



O dilúvio das águas, representado por guarda-chuvas e uma arca em miniatura entre os objetos cênicos, é uma alegoria do dilúvio de informações do qual fala o dramaturgo e do questionamento sobre “saber, instruir-se, crescer”, como repete a protagonista, aludindo também aos sábios da Antiguidade.

A esperança, último atributo na caixa/jarro de Pandora, é mencionada na seguinte fala:

“É o dilúvio. Sim. Mas qual? E qual esperança? Se há alguma esperança. Esperança. Essa é a última esperança. Nada dá em nada. Mas não totalmente satisfatório por causa das intermináveis dúvidas, como, por exemplo, qual Diógenes?”

A resposta não vem, mas pode-se pensar em Diógenes de Sinope, o filósofo cínico, ou Diógenes Laércio, que sobre ele escreveu no livro VI das “Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres”.

A peça de Gerald Thomas se estrutura na música, balé aéreo e design de luz, como se pode ver neste teaser. (Renata Cazarini)